Do Que Não Sei
Também vejo melhor de olhos fechados, mas não é no silêncio que me ouço mais. Sei que só sei contar das ervas daninhas do meu jardim. Dos tempos de lavar roupa na tábua e encerrar o chão dos outros. Sei que só sei falar dos cardos e espinhos da minha alma. Das dores da infância, das bonecas que não tive, de não ter brincado com os índios, de só ter espiado a vida pela vidraça da janela da casa da minha avó. Sim, sei que só sei contar das coisas minhas e não ouço as coisas que nunca quiseram me contar. Eu também já tive um jardim que eu pensava que era meu. Nele uma casa de janelas e portões que podiam ser abertos na hora do ângelus. Também julguei ser dona de chamadas que soavam a mais de dois quilômetros de distância e que eram um sinal de que chamava e era ouvida. Sei que me achei dona das cores azuis de uma música que toca em catenas tão distantes mas tão perto de mim. Mas… nesse tempo de ausências descobri…. que não era eu a visita que chegou no entardecer e teve o poder de levar de minha presença o sol para um reino de ostras e lumiares… descobri que não sou dona de nada, nem … nem das mãos que o sol diz estar e não sabe se nelas está… porque tudo não é meu… nem mesmo meu coração… Eu? Só, sou dona de ausências e eternas lágrimas de saudade...
Maria
Enviado por Maria em 08/04/2015
Alterado em 15/04/2015