Maria
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É Apenas a Vida
Às vezes a vida nos põe à prova. Sonhos que ousávamos já não se fazem ser e dores que não desejávamos se alojam com desdém em nossos cantos da vida. Ontem, foi ontem, e já não me é mais possível nele viajar. Por isso, só posso falar dos sonhos que ainda tenho, que cultivo como num abraço por muito tempo querido - todos esmagados pela vida. Sei que haverá a face que jamais contemplarei e mãos que em momento algum terei segurando as minhas. Adentrarei a escuridão do grande Fim e nunca verei o sol face a face com meu coração. Agora compreendi o significado de se perder o que nunca se teve, o que jamais se conquistou. Mas não se assuste. São minhas as divagações e já se perderam no vazio que hoje é minha luz de escuridão. Um dia, agora longínquo, viajei em teu corpo, aportei no cais de tua alma e nela me encontrei. Passados 9 milhões de horas do tempo me dedicas ao kronos do tempo e às tempestades de silêncio. Não compreendo mais a vida. Não sei mais de seus caminhos. E nada me basta para acalmar as feridas que já são tumores de morte a me sufocar. Tive a glória de conhecer o sol e a dor de jamais poder tocar em sua luz... É como dar um doce a uma criança e quando ela o leva aos lábios o arrancam com gana e raiva de suas mãos. A dor é fenomenal. Mas não se assuste. Não se perturbe pelas linhas tortas, pelos sentimentos contraditórios, pela dor e loucura cujo sangue se derrama nas letras que me fogem - não se perturbe. Siga teu dia como se nada tivesse chegado a ti - é assim que é. É apenas a vida. Por isso... Nada mais importa. Nada mais tem sentido. Então que se faça minha escuridão e a confusão e silêncio de meu coração, alma e voz. E que ninguém lamente - não quero lamentos tardios. Ninguém precisa compreender nem dizer que entende e se condói. Nao quero pena na minha tumba de escuridão. Nem olhares de piedade pela minha vitória marcada por constantes e atrozes perdas e fracassos. Morrerei sem poder ouvir e sentir o que por milênios sonhei... quero e vou beber (não sou mulher de fugas) todas as dores que me forem entregues e viver minha morte por elas. Porque me ensinaram que só assim posso materializar o que nunca tive, o que nunca pude - coração enlevado - sentir e tocar. Não ouvi o que queria ouvir e precisei beber minhas próprias palavras para poder receber o que almejava. Talvez, e acredito, nunca tenha sido aquela a quem o coração do sol se ligou. Nem tampouco fui o que foi esperado de mim o ser. Não fui o amor querido, amor amado das 9 horas, nem a apaixonante mulher do santuário do coração, e muito menos a intrépida e vivaz mulher da roça. Fui só Maria, e agora Maria Só - aquela que chegou quatro vezes sem nunca ter ido e quatro vezes foi abandonada e empurrada para o vazio... Quer vida mais iluminada do que esta? Mas, por isso não posso colher perdão - como pedir perdão pelo que nunca fiz? E também não o recebi. Fui julgada e condenada sem ao menos o direito de defesa. É o veneno que me mata cada dia e me seca pra sempre a palavra. Não suporto mais nenhum gole de dor e silêncio. Neles já me embriaguei - e perdi o rumo de meu viver. Agora eu sei e preciso ensinar: a vida, esta vida, é sim ingrata e injusta!!!
Maria
Enviado por Maria em 08/04/2015
Alterado em 15/04/2015
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