Em meio à nossa caminhada pelas trilhas da floresta, Reinhard parou e ajuntou uma pinha que havia em profusão pelo chão do caminho. Mostrou-me e explicou que ali dentro daquele invólucro encontravam-se as sementes de uma nova planta de pinheiro.

- No entanto, disse ele, essas sementes só conseguem brotar e gerar uma nova planta se essa pinha for queimada.

Olhei a pinha em suas mãos e tentei imaginar como era a semente que a mesma continha em seu seio. Reinhard apontou para os altos pinheiros ao lado da trilha e pude vislumbrar a beleza e a majestade das árvores que só existem porque suas sementes passaram pelas chamas.

- Para que a semente possa sair de dentro da pinha em forma de uma nova planta, reiterou-me Reinhard, a pinha deve necessariamente passar pelo fogo.

Segui o restante do caminho mergulhada em reflexões. Lembrei meus tempos de criança, quando sofria com o alcoolismo do pai. Lembrei as noites de medo e angústia quando pensava que o pai fosse morrer e que eu o perderia para sempre. Lembrei as brigas, as lutas e a vergonha que tinha na manhã seguinte diante dos olhares dos vizinhos que passaram a noite espiando pelas janelas sem fazer nada para ajudar. Minha família viveu o alcoolismo do pai sem conhecer ajuda para sair do sofrimento. Foi o fogo da dor da perda de um filho (meu irmão) que fez meu pai tomar a decisão de parar de beber. Assim como a pinha tivemos de passar pelas chamas do fogo da dor e do sofrimento para que um novo horizonte surgisse em nosso caminho...

Mas eu aprendi com a dor. Hoje sou quem sou porque passei pelo fogo da vida e sobrevivi... E sei, ainda posso ver no espelho da minha alma as labaredas deste fogo. Ele está ali pra que eu nunca esqueça de onde vim, minha história, quem fui... quem sou... Eu sei... quem sou...

A dor é pedra de fogo a polir a alma.

O sofrimento é filosofal...