Portas Fechadas
Também me pergunto sobre o que aconteceu. Quero saber por que me afogo em silêncios e onde está a voz que queria ouvir todos os dias em minha vida.
Não vi jardins vazios e nem pisei calçadas rachadas mergulhadas em folhas secas e mortas.
Mas, não consegui, como o jardineiro preocupado e perfeito, podar minhas lágrimas, nem colher boas colheitas.
Minhas plantações não vigam. Eu semeio, semeio e semeio, mas minha sementes não brotam mais.
Por isso eu vago no vazio.
Sou eu a folha seca e morta que o vento leva para fora dos muros e quintais. Sou eu.
Assim, grelhada de dor e chamuscada de silêncios me deixo levar.
Cada dia é mais um para deixar escorrer as lágrimas pelas paredes da alma. Cada dia é assim... nebulando sonhos e afogando esperanças.
Não foram os insetos que danificaram minhas sementes. Foi o Sol que as pisoteou e as sufocou com seu desamor.
Ele as rejeitou. Como se rejeita um chamado, um grito que ninguém quer ouvir.
Não sei porque ainda canto. Não ouço mais minha voz rouca e fana. Devia calar como se calam as vozes do peito. Como se calam as cores... como se cala o dia para a chegada da escuridão...
Meu jardim não é visitado. Minhas flores não são vistas. Pra que plantar sementes se o Sol não as vê?
O Sol não quer mais minhas sementes. Não as procura mais.
Ah! As perguntas rasgam a alma. Perfuram os sentidos e fazem doer as lágrimas do peito.
Não há mais portas que eu possa abrir. Não há mais...
Por que ainda acreditei que havia?
Não há mais o que acreditar.
A esperança já morreu.
Nada mais cresce, diz o poeta, nada mais cresce.
Sim, um jardineiro como aquele não vai mais existir. Não, não vai mais existir.
Eu também tenho batido e batido e batido na porta. Eu tenho batido.
E não há quem me responda, não há. Não há ninguém. Ninguém, ninguém.
Eu tenho batido. Eu bato sem parar.
E eu também chamo. Chamo e chamo com minha voz embargada de sonhos. Eu chamo. Eu grito até.
E ninguém vem atender.
A porta não abre mais.
Então eu chamo e chamo sempre de novo...
Mas, agora a esperança morreu.
As minhas mãos doem. Os dedos azularam de tanto bater.
Eu tenho batido tanto. E tenho chamado seu nome...
Eu sei que você disse que com minhas lágrimas poderia fazer boas colheitas.
Você disse que as raízes ficariam mais fortes regadas no sal de minhas lágrimas.
Eu ouvi você dizendo que pessoas especiais tem de passar pelo fogo da vida para fazerem boas colheitas.
Mas se você ao menos ouvisse a minha voz. Se ouvisse o meu chamado e o respondesse.
Mas você não ouve mais.
Não atende mais a porta.
Você fechou as portas para mim. Você fechou as portas e partiu pra sempre...
E você foi um jardineiro perfeito.
Você colheu flores onde eu plantei minhas lágrimas.
Você colheu só flores no meu jardim.
Eu te dei todas elas.
Também a flor do peito eu te entreguei.
E agora eu bato na porta e ela não abre.
Eu chamo na porta sem parar...
E ninguém abre. Ninguém abre. Ninguém!
Eu também ouço o som das gotas caindo no solo.
Mas você não ouve mais.
Não sai mais para brincar. Não, não sai.
Por isso eu não consigo podar minhas lágrimas e nem fazer boas colheitas.
Nada mais cresce aqui. Nada mais... ....
E eu me pergunto sempre: o que aconteceu aqui?????
Não consigo podar minhas lágrimas...
Não, não consigo podar minhas lágrimas...
... ... ... ... ... ...
Talvez se eu conseguisse...
Se eu conseguisse podar minhas lágrimas...
Maria
Enviado por Maria em 26/06/2015
Alterado em 27/06/2015