Pó de Vielas
dizes que virei saco de pó
nas ruas de vielas?
afirmas que é mesmo assim?
então, podes até ter
descoberto a ti, mas não
me descobriste enfim.
mesmo eu abrindo todas
as minhas tramelas,
não me percebeste,
nem sabes nada de mim.
podes, como um louco,
subir e descer escadas,
de chinelas de couro ou de palha,
embriagado de história.
tocar até uma banda inteira
de instrumentos de sopro,
ser sucesso na China,
na Inglaterra, na França,
e até na praia da Cornualha.
podes ter todos os saberes,
falar a língua mãe,
o inglês e até o latim.
saber tudo de literatura,
filosofia, história,
política, moda, rádio, TV.
conhecer até a sagrada
escritura,
entender de instalar DVD,
mas se pensas assim...
não sabes nada de mim.
sou pedra antiga,
pedra pura,
que não descasca assim
- com uma brisa
de tempestade -
que joga vento
prá cá e prá lá.
sou casca dura,
mesmo sendo
o interior:
creme de chocolate
derretido,
fondue de inverno,
salada de frutas
de outono,
doce, azeda, picante
colorida,
esvoaçante.
e eu sei lá?
sou também flor e semente.
e morro todos os dias,
prá de novo me plantar.
então renasço qual fênix,
- renasço sempre -,
prá eternamente amar.
Maria
Enviado por Maria em 07/07/2015