Do Que o Poeta Faz
O Poeta de pena na mão, sabe manusear as palavras com maestria e perfeição, tal qual o oleiro que com suas mãos toma e transforma o simples barro em uma peça delicada e preciosa que vai encantar os olhos e alegrar o coração de quem a contemplar.
O Poeta sabe caminhar em nossa alma, percorrendo caminhos e trilhas que guardamos escondidos e fechados a cadeados e fechaduras, que nem o tempo ainda havia conseguido abrir. E toca cada canto escuro do coração, iluminando o tanto de dor, emoção, paixão e amor ali depositados, trazendo-os à flor da pele para serem outra vez vividos e ou sofridos intensa e profundamente.
O Poeta conhece o interior de nossa alma como nem mesmo nós parecemos conhecer. Descobre coisas a nosso respeito que nunca imaginávamos ser possível existir - ainda mais lá - lá no fundo, do fundo do coração.
O Poeta sabe o que almejamos e carrega nosso espírito em suas mãos, dobrando, enrolando, esticando, passando, acarinhando, trazendo para perto de si ou mesmo empurrando para longe, ao sabor de suas vontades e desejos incontáveis e desconhecidos a nós pobres mortais que nos aventuramos por suas linhas e entrelinhas.
Ele joga nosso espírito, nossa alma, nosso corpo no mar de suas palavras e ficamos bailando ao sabor das ondas, assim, assim de mansinho. Uma ondinha pra cá, outra ondinha vem cá. Pra lá, pra cá, estonteando-nos com esse balanço, a ponto de perdermos o rumo e o prumo ao fim de seu texto.
E num repente de loucura arremessa-nos num vendaval de rodamoinhos espiralados, em ondas gigantescas, que arrasam nossas mais ferrenhas convicções, derrubam nossos muros, cercas e alambrados, transformando tudo ao mais mísero pó, que depois ainda sopra com seu hálito morno em nossos olhos, nos cegando traves e fechaduras que ligeiro tentávamos pegar para cadear e prender sentimentos que brotam e explodem em lava incandescente.
E ficamos ali boquiabertos, com o espírito em revoada de luzes e cores, asas abertas, mas sem direção, tão deslumbrados e impressionados com os sentimentos que nos calam, perdidos, vagando, vagando pelo espaço existente entre um verso e outro da poesia costurada à mão, ponto a ponto, pelas sábias mãos do Poeta-oleiro.
E o Poeta sabe. Ele bem sabe o que faz conosco. Ele sabe sim.
E fica extasiado à contemplar a obra que resulta de suas palavras... E, ainda não satisfeito dá o golpe final - um só - dado com tal maestria que ficamos atordoados, com a impressão de que o que sentimos na verdade, não é o que sentimos, mas o que o Poeta sente. E na dúvida, beiramos o céu e o abismo de fogo e ficamos lá, lá onde o Poeta quer que permaneçamos naquele momento, naquele único instante, face à face com ele.
Ele transporta-nos em carruagens de fogo para o seu tempo. Se Poeta medieval, tira-nos deste tempo em que agora vivemos e nos lança a duzentos, quinhentos anos atrás, ou quando moderno, joga-nos à realidade da vida... Ou, ao futuro ainda desconhecido para nós...
Faz-nos caminhar pra frente, pra traz, prá dentro e prá fora de nós mesmos, de acordo com sua vontade. E sentimos cheiros, perfumes, experimentamos sabores, subimos e descemos montanhas, percorremos trilhas, navegamos em mares nunca antes vistos, descemos rios e geleiras, corremos pelos vales, voamos pelo céu infinito e por campos encantados, ouvimos e dançamos canções, tocamos flores e acariciamos sonhos.
O Poeta invade nossa privacidade e fala de temas profundos onde sabe, a gente se encontra lá, em cada linha, cada palavra, cada sentimento descrito para nos fazer pensar, refletir, mudar.
O Poeta nos faz corar, vibrar, faz rir, faz chorar no embalo doce de sua poesia. E seu poetar nos transporta para dentro do seu mundo e história.
Ah, e quando o Poeta fala de amor. Então nossa segurança some, desaparece e se perde perigosamente entre o ritmo e o cadenciar de suas palavras. Se ficamos, rodopiamos qual peão em suas mãos, se fugimos, as palavras nos perseguem, agarram, prendem e nos fazem, mesmo que ao fim do dia, voltar para dançarmos e rodopiarmos ao som da música apaixonante do Poeta.
O Poeta ao falar de amor, paixão e alegria, faz a alma explodir em felicidades, o corpo tremular descontrolado e o coração bater descompassado num ritmo desembalado parecendo às vezes que vai parar subitamente se o tentarmos controlar. E joga tal emoção em suas canções que lá vem elas, as lágrimas da vida, às vezes, quentes, caladas em suave deslizar pela face conturbada, ou, explodidas em soluços de sacudir o corpo, tal a intensidade dos sentimentos desencadeados pela tristeza, dor ou lamento que encontramos no interior da poesia e da canção do Poeta.
Suas palavras nos tocam, suas mãos caminham no barro de nosso espírito, moldando-o a partir do ensejo do seu próprio espírito, fundindo-os, como um só, naquele instante, único instante onde a poesia ganha corpo, ganha vida num já azulado rascunho de papel que somos nós.
E naquele único instante de encanto e magia, somos poetas também, pois a poesia ganha vida, ganha alma em nós e se levanta, e caminha, e vive intensamente cada um de nossos dias, marcando-nos para sempre como propriedade dela, e ela, propriedade nossa.
Maria
Enviado por Maria em 23/07/2015