JOÃO E RAIMUNDA - OS INVISÍVEIS DA BELO MONTE
E não acho uma só palavra que possa expressar o sentimento ao ler este texto. Confira você:
http://brasil.elpais.com/brasil/2015/09/22/politica/1442930391_549192.html
"– Se eu fizesse um dano com um grande, um grande lá de dentro, talvez melhorasse para os outros. Eu sacrificava a minha vida, mas a dos outros melhorava. Se eu pudesse, eu passaria por dentro do maior chefe dessa firma, passaria por dentro umas duzentas vezes. E não tenho medo de dizer. Eu era muito satisfeito de fazer isso, mesmo que na mesma hora minha vida se acabasse. João não conseguiu fazer o gesto. O desejo de matar não virou movimento. João descobriu ali que matar não era um ato possível para ele. As pernas travaram, a fala travou. João imobilizou-se por inteiro para não matar aquele que encarnava a obra que acabava de matá-lo." (JOÃO).
Raimunda marcou toda a história na casa nova, ainda em construção: as paredes são verdes, “porque é a esperança no futuro”, os rodapés são marrons, para mostrar “a barreira da barragem”, as grades das janelas são pretas, “em sinal de luto”. “Tudo na minha vida tem uma história”,
– Sou uma pindova, uma palmeira muito perseguida lá no Maranhão. Quanto mais casca Belo Monte arranca de mim, mais eu me renovo. Fiquei queimada por dentro, como a minha ilha, mas me renovo. A pindova é assim, ninguém mata ela com fogo nem arrancando nem com nada. Ela volta. Como eu. Já venho de uma naturalidade de pessoas muito sofridas, o sofrimento faz parte da nossa história. Não vou morrer porque peguei porrada. De jeito nenhum, sou descendente de escravos e de uma etnia indígena quase extinta.(RAIMUNDA).
João encerra seu repente brutal:
– Eu quero que o mundo saiba que Belo Monte me matou. Então, venho de um povo sofrido lá da base. Sou pindova e quero viver. (JOÃO).
Maria
Enviado por Maria em 23/09/2015
Alterado em 23/09/2015