Maria
Prosa e Poesia
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Textos
À você que me fala
Não, não conheço você, por isso não podes me ajudar.
Nunca vi você.
Perdeu-se por este espaço de luz?
Quem é você?
Uma ave, um pássaro alado? Um animal? És um carro? Uma casa? Uma nave perdida no espaço procurando um lugar para pousar?
Para pousar em algum lugar é necessário estar com tudo em dia. Você está?
Não, não conheço você.
Nem mesmo seu modo de falar eu conheço.
As pessoas que conheço possuem uma linguagem apurada e não falam coisas em praças públicas, das quais coro só em pensar.
Não me leve a mal, mas nunca nos vimos, não sei quem você é, por isso não podes me ajudar.
Só amigos podem me ajudar neste momento e esses não tenho mais. Clamei por eles do alto do meu desespero e eles corriam incansáveis atrás de estrelas cadentes.
Não tinham mais tempo para mim.
Meus amigos tinham por mim uma amizade muito frágil, muito delicada para suportar as agruras e as interpéries do tempo.
E por isso, sumiram um a um.
Dia após dia foram-se indo, indo, até sumirem de vez no espaço cideral, enquanto gritava sem parar pedindo que voltassem.
Sabia para onde estavam indo e que isso os levaria para longe de mim. Falei isso a eles várias vezes. Mas não se importaram.
O brilho da prata que se apresentava no horizonte valia muito mais do que o que tenho aqui para oferecer.
A ganância de possuir mais, muito mais, para satisfazer desejos da carne e ânsias mal curadas, se sobrepôs a tudo o que poderia ser de mais valioso para mim.
Uma amizade e um amor sincero e verdadeiro.
Tudo isso, meus amigos jogaram no saco escuro da lata de lixo. Quando um amigo faz isso com você, ele não se importa, não conhece você de verdade e não gosta de você de verdade.
E, agora me surge você. Com tempo vago, com certeza, pois falou tanto.
Não, não conheço você. Não sei quem és, e por isso não podes me ajudar.
Se você fosse um dos meus amigos, teria pedido perdão pela sua ausência, pela sua insensibilidade, seu pouco caso, seu erro.
Se fosse um dos meus amigos, que acho que conheço, você faria isso.
Não, não conheço você, e por isso não podes me ajudar.
Agora estou só.
Mas não se preocupe.
Sei por onde andar.
Ontem, era ontem.
Hoje, já é hoje.
Sei que não sabes, mas meu tempo não é medido pela ampulheta com o qual é medido o teu.
Em um dia vivo cem anos...
Tanta coisa pode acontecer em cem anos você não acha?
Maria
Enviado por Maria em 02/07/2007
Alterado em 02/07/2007
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