Maria
Prosa e Poesia
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Diálogo das Águas

Olho o rio, silencioso e sozinho, magoado em suas águas pelas pedras do caminho. É que, um voo impossível faz náufragos em paradas inesperadas e incertas de possíveis mudanças de rota. Gôndolas de sentimentos expressam-se à beira do cais. Ninguém olha, ninguém vê. Paradoxos do tempo.

Fosse mar seria magoador, mas é rio...determinado, corrente.... zeloso, generoso até com as pedras no percurso até o mar.

Generosidade dolorida, quase uma automutilação. As pedras doem. Cortam suas águas profunda e solenemente. Não há perdão, nem desvios pra não se machucar. O jeito é ir, ir, ir, sem olhar as pedras do caminho. Sentindo-as rasgando o ventre e o próprio coração. Vai sozinho... Mas segue em frente.

Suas águas não o deixam só... é ele inteiro, cada gota.

Infiltra-se à terra para deixar seu sangue no barro que lhe faz caminho. Seus rastros formam paisagens que ele nunca mais vê. Seus olhos jamais contemplam.

Como nossa retina que fotografa tudo pra memória... Espelha os frutos que ajudou a nascer, por isso segue em frente, como que satisfeito.

Ao chegar ao mar suas águas doces ficam salobras. Não é mais rio. Agora é mar.

Ele se doa. A maior parte do mar é rio... não sal. E cura...

Abre mão de sua própria identidade. Invisibilizado, evapora... Sobe ao céu...

E cai como chuva...
Maria e Rose Rocha
Enviado por Maria em 26/10/2020
Alterado em 27/10/2020
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