Não Posso Mais Ser Eu
Não posso mais ser eu.
Não devo mais ser Maria.
De que adianta ter um nome então,
se você só é alguém sendo ninguém?
A notívaga reclama
que devo ter um sobrenome.
Para quê se nem com nome
consigo sobreviver?
Na verdade, na verdade,
minha amiga, sou um zero,
um nadinha de ninguém.
Tudo está errado para mim.
Não posso ver os filhos do sol,
nem uma restiazinha de sua luz.
Não posso caminhar no jardim,
nem direito a vê-lo mais eu tenho.
Fui barrada por um muro de pedras
que já não sei nem mais onde está.
E se ando por aí,
no jardim de luz e canções,
sendo eu mesma,
nem bem passei,
após mim alguém já vem
com o apagador.
E eu que achei que era alguém.
Que significava alguma coisa.
Hoje vi que não é assim,
ao descobrir que
os rastros da flor permaneceram .
A flor pode viver.
Maria não!
Maria morreu queimada
pelo intenso calor da ira do sol.
Por que insisto com as coisas?
Por que sou teimosa?
O que eu ainda espero
se nem ser eu mesma
posso mais?
Que inferno.
Não sou ninguém.
Morri mesmo.
Fui morta.
Em todos os sentidos.
Devia aceitar e me cobrir de pó.
Como indigente, à noite.
Sem nome, nem sobrenome.
De desesperar...
Por acaso alguém sabe
onde tem um coveiro
que aceite uma morta-viva
enterrar?
Maria
Enviado por Maria em 12/11/2007