Ouço o silêncio do poeta (ou, talvez o meu),
o silêncio das estrelas, "tão longínquo e singelo"...
ao mesmo tempo tão perto, tão dentro... íntimo...
ouço-o, sinto-o... em meus pra dentro...
envolvido na imensidão de si mesmo,
de sua própria grandiosidade...
como um mote de luz que parou no espaço...
entre uma batida e outra dos ponteiros do relógio....
Me calo em suas mãos,
me absorvo no vácuo de sua leveza,
plumo asas, voo por ele...
Maria.
Lendo Poema de Neruda: Gosto quando te calas
Gosto quando te calas
Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.
Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.
Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.
Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.
Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.
Pablo Neruda
Foto: Charles Carminatti