O que há de mais palpável
é quando não nos sentimos mais,
quando sobram só lembranças
e saudades - num mensageiro do tempo -
de um futuro que se sonhou
nas escarpas do tempo.
Quando a dor é tão íntima, tão perto,
tão dentro que não se consegue verbalizar -
é um sopro fugaz e trêmulo que foge pelos olhos
descendo até os lábios e se devolvendo
intenso e profundo ao corpo enquanto
o medo de um toque
ser recebido em inércia e silêncio
transforma a espera num tempo sem fim...
É assim que é como se fosse minha - a tua dor.
Por isso tenho medo!
Tenho medo dessas prisões
que nos abatem o espírito
e talvez, talvez, nos dilacerem
sem dar mais tempo
de costurar os retalhos,
de dizer tudo que se ousou sonhar...
Dilacera, também, saber
que os sentires versejam paixões,
e que, enquanto rodas inquieto
entre as luzes e avenidas
de princesas e rainhas
recebendo moedas e grãos por ser rei,
eu o sei aqui, dentro em minha vida
onde sempre semeio o que mais te augusta
o paladar do coração.
Eu sei das suas noites de andanças
por ruas que não tem fim e, digo que,
mesmo que te falte nas manhãs o pão,
coloco flores nesse caminho
porque ele se faz a cada passo
e do teu, o pavimento é o amor.
Prosa e Foto: