Não tenho mais utilidade.
Me julgam perca de tempo.
Só valho cinco vinténs.
Moedas pagam tanta dor?
- não pagam com tanto desamor.
Vou pegar a minha mala e seguir
para o Passo dos Ninguéns.
Pelo menos lá falo com as pedras
e cachoeiras que me afagam de ternuras
e queimam meus ossos já fragilizados
pelo câncer da indiferença.
Para isso medicina não tem.
Nem pomadas que os mouros
quiseram me receitar.
Hoje, sozinha, em algum templo de amor,
peço um sol que me aceite em minhas preces,
que não me compare e nem julgue,
muito menos decrete vereditos como se fosse
- do meu mundo - um romano imperador,
De nada mais me resta pedir:
talvez, o que me sobra
é seguir o curso de mim mesma,
ou inclinar-me aos espelhos
que inauguram abismos...
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