Maria
Prosa e Poesia
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Textos

Passo de Ninguéns

Não tenho mais utilidade.

Me julgam perca de tempo.

Só valho cinco vinténs.

Moedas pagam tanta dor?

- não pagam com tanto desamor.

Vou pegar a minha mala e seguir

para o Passo dos Ninguéns.

 

Pelo menos lá falo com as pedras

e cachoeiras que me afagam de ternuras

e queimam meus ossos já fragilizados

pelo câncer da indiferença.

Para isso medicina não tem.

Nem pomadas que os mouros

quiseram me receitar.

 

Hoje, sozinha, em algum templo de amor,

peço um sol que me aceite em minhas preces,

que não me compare e nem julgue,

muito menos decrete vereditos como se fosse

- do meu mundo - um romano imperador,

 

De nada mais me resta pedir:

talvez, o que me sobra

é seguir o curso de mim mesma,

ou inclinar-me aos espelhos

que inauguram abismos...

 

Imagem: Pinterest

Maria
Enviado por Maria em 06/09/2022
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