Num dia de luz como nunca mais tive,
ele se foi...
Saiu pela porta entreaberta...
Disse que logo voltava.
Já se passaram 7 voltas
da terra ao redor do sol
e na minha bolha do tempo
e ele nunca mais voltou.
Deixou-me com o coração na mão
e o espírito dilacerado, moído por dores
e angústias que ele nunca sentiu.
Não conhece essa dor.
Hoje, minha escuridão é um convite à partida.
Chegou a minha hora de fazer as malas.
Partirei como sempre vivi –
solitária e embrutecida pela dor…
Não há ninguém para dizer adeus,
nem alguém a quem beijar
a face antes da partida.
Paro na porta para um último olhar
para dentro de minha própria escuridão…
é hora de ir…
Já fechei meu alpendre -
nem a chave da porta mais tenho.
Na bagagem nada levo.
Apenas a coragem e o medo de partir,
jogar-me no abismo que sempre evitei.
Não vai doer. Já não dói mais...
A dor anestesia os sentidos...
É como um adormecer
que já tive há tantos séculos
e do qual acordei pela mão
que agora me deixou.
Sei de tudo já.
Vou trocar a dor pela dor.
Afinal, já morri 7 vezes
já fui para longe dele
mas, bravia com a vida,
cismei em voltar...
Não devia.
Devia ter lá ficado.
Agora vou!!!
E será para sempre.
Disso ele já sabia
quando escolheu de mim partir.
E mesmo sabendo
o que não queria saber
ele se foi…
Então vou partir.
Chegou minha hora.
Não deixarei espólio,
além do que já ficou.
Um espaço do tempo
com milhares de pétalas
dessa mulher enrolada
numa “rosa do adeus”
e um “lumiar de brisa” que
- numa homenagem ao nosso amor -
está no colo dele há milênios.
É isso que deixo em meu testamento.
Um pequeno espólio
que não terá mais acréscimos.
Porque… a boca da alma calou faz tempo.
Não consegue pronunciar a dor.
Não há palavras que a expressem.
Por isso deixei por último,
em cartório registrado,
um pequeno bilhete
e um poema de “Amor Eterno”.
Para que ele nunca esqueça
que este coração foi
por ele condenado a solidão,
e de dor e tristeza morreu…
porque… um dia…
envolto em um tapete
de folhas amareladas pelo tempo…
e árvores serradas com vigor
aprendeu o que era de fato
o verdadeiro amor…