Maria
Prosa e Poesia
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Alpendre da Dor

Num dia de luz como nunca mais tive,

ele se foi...

Saiu pela porta entreaberta...

Disse que logo voltava.

Já se passaram 7 voltas

da terra ao redor do sol

e na minha bolha do tempo

e ele nunca mais voltou.

 

Deixou-me com o coração na mão

e o espírito dilacerado, moído por dores

e angústias que ele nunca sentiu.

Não conhece essa dor.

 

Hoje, minha escuridão é um convite à partida.

Chegou a minha hora de fazer as malas.

Partirei como sempre vivi –

solitária e embrutecida pela dor…

Não há ninguém para dizer adeus,

nem alguém a quem beijar

a face antes da partida.

 

Paro na porta para um último olhar

para dentro de minha própria escuridão…

é hora de ir…

 

Já fechei meu alpendre -

nem a chave da porta mais tenho.

 

Na bagagem nada levo.

Apenas a coragem e o medo de partir,

jogar-me no abismo que sempre evitei.

Não vai doer. Já não dói mais...

A dor anestesia os sentidos...

 

É como um adormecer

que já tive há tantos séculos

e do qual acordei pela mão

que agora me deixou.

 

Sei de tudo já.

Vou trocar a dor pela dor.

Afinal, já morri 7 vezes

já fui para longe dele

mas, bravia com a vida,

cismei em voltar...

Não devia.

Devia ter lá ficado.

 

Agora vou!!!

E será para sempre.

 

Disso ele já sabia

quando escolheu de mim partir.

E mesmo sabendo

o que não queria saber

ele se foi…

 

Então vou partir.

Chegou minha hora.

 

Não deixarei espólio,

além do que já ficou.

 

Um espaço do tempo

com milhares de pétalas

dessa mulher enrolada

numa “rosa do adeus”

e um “lumiar de brisa” que

- numa homenagem ao nosso amor -

está no colo dele há milênios.

 

É isso que deixo em meu testamento.

Um pequeno espólio

que não terá mais acréscimos.

Porque… a boca da alma calou faz tempo.

Não consegue pronunciar a dor.

Não há palavras que a expressem.

 

Por isso deixei por último,

em cartório registrado,

um pequeno bilhete

e um poema de “Amor Eterno”.

Para que ele nunca esqueça

que este coração foi

por ele condenado a solidão,

e de dor e tristeza morreu…

porque… um dia…

envolto em um tapete

de folhas amareladas pelo tempo…

e árvores serradas com vigor

aprendeu o que era de fato

o verdadeiro amor…

Maria
Enviado por Maria em 07/09/2022
Alterado em 07/09/2022
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