Eu lhe escrevo.
Não porque me sobre tempo,
nem porque queira a esta hora da noite
- em que tua alma dorme -
lhe alimentar com palavras...
Até porque ainda não sei alimentar
um passarinho que sempre foge de minhas mãos...
Escrevo... porque preciso.
Uma necessidade urgente em falar,
cavoucar a alma e arrancar de lá
o que está preso, amarrado, escondido.
Talvez... uma voz calada de milênios.
Talvez... um sentimento com medo
de para sempre o perder.
Talvez... a premente e constante
densa procura... por mim...
procurando você...
perdida no mensageiro do tempo.
Dentro da alma evaporam-se palavras
que deviam expressar os sentimentos.
Descubro, inquieta, que
não sei mais falar como sempre o fazia.
Paro, penso, penso e não sei como dizer...
Mas, uma lágrima desce pela face.
Me sinto só.
A hora é longa e escura.
E eu me sinto só dentro da noite.
Ferida pelo seu silêncio.
Imaginando-o eterno...
Me sinto só.
Eu... e os meus sozinhos.
Procurando você...
em nosso espaço de vida
com medo... de que
sua partida seja para
a minha morte chegar
e o “volto em breve” seja
um dia "tarde demais"...