Amanheceu. E o mundo está mais vazio.
O tempo aqui está pesado, chuvoso e frio.
Reflete minha alma que olha o seu jardim
totalmente abandonado com troncos
de sofrimento espalhados ao chão.
E ninguém liga.
Não há mais companheirismo
nessa confraria do abandono.
Não há nada a perdoar, mas também
não há mais nada a se falar.
Você não pode ser verdadeira.
"Tá com raiva, embravecida?"
"Com ciúmes?" Diz.
"Tá triste?" Fala.
"Tá do outro lado da bola da vez?" Reclama.
"Não quer falar?"
Manda recado dizendo.
E aí, pela primeira vez em nossa
vida de 16 séculos juntos
você abre a boca e confessa
seus toscos pecados sobre
a távola do mundo e o que,
de resposta, recebe?
Todos vão embora, despendem rancor
e amargura e te deixam plantada
na praia do vasto mar olhando
pescadores buscando o pão
ou navios de tristeza e solidão.
Eu não posso me calar
enquanto árvores e muros caem
e destroem o lar de amor
que juntos construímos.
Mas o que mais me dói,
é que ninguém se importa
em laços religar, vidas reconectar
e reconstruir a fraternidade do amor.
É triste. Muito triste ver tudo ruir
como as peças de um gigante dominó.
O mundo, nosso mundo, mergulha
no antagonismo e na guerra.
Não há espaço para encontrar um lar
que amaine a solidão
e a dor de ser ninguém.
Imagem: Arturo Lopez
Site: www.arturoillana.com/