Disso eu posso falar.
Nesse manicômio que é a vida,
já fui desativada, bloqueada,
sofri desconexão...
cortes, apagamentos,
desmaios e até choque elétrico...
Foram tantas e tantas vezes
que até perdi a conta.
Também quem manda
ser espinho de rosa e flor
ao mesmo tempo.
Não sei quem inventou essa haste
que se dobra em qualquer vento
e ao chão tende a ficar...
Na minha última desativação
fiquei a ver navios...
jogando garrafas
na água do mar
com mensagens de socorro
pra ninguém ver,
nem recolher...
as algas nelas se enroscaram
e fizeram de toca
no fundo das pedras...
Moradia no Largo
dos Desaparecidos,
diz a placa
pra quem pede
informação de onde é.
Agora estamos lá...
eu e as minhas garrafas...
paradas no tempo,
como uma vida
desenhada no diário
cujo dono apaga
rastros e pegadas
- e a vida - como
se estivesse apagando
um simples lampião...