Você ainda segue carregando minhas dores. Elas se espalham pelo mundo em canções que todos esperam. Como fossem um cerrado em chamas com águas entrando pelos beirais sem conseguir o fogo apagar.
O impacto dessa onda que nasceu não consegue me derrubar, mas as hastes estão danificadas. Enquanto o mundo se preocupa se estou fazendo atividade física, se ando de bicicleta, faço yoga ou faço pilates, a vida está desmoronando num desastre que não consigo compreender.
Parece que tudo se repete infinitamente e exaustivamente. Vozes que falam, cenas de teatro, personagens representando uma história que era só minha e agora está em praça pública, colada em tudo que é poste, gritada em todos jornais...
Não sou uma sonsa que não percebe o que acontece ao redor. Não sou tão ingênua que não veja o mundo representando o que nem deviam saber... Eu não pergunto mais nada. Mas, me conheço, a tendência é me calar.
Eu só queria um colo, um carinho, um abraço que não fosse dado por mim. Parece que ando, caminho sozinha pelos corredores da vida. Todos grudados em seus celulares, olhando para o mundo com vendas nos olhos, cheios de burocracia, correm em busca do dinheiro como se ele movesse o mundo.
De fato, sou ninguém. Passo e gritam meu nome, mas não me veem. Não sentem nem as árvores floridas de vida e vida que flui em cada curva da estrada.
A mulher correndo pela rua, o homem passeando com seu cão, o grupo de jovens alegres falando alto, planejando suas noites em bares e baladas ou discutindo conceitos pelos corredores cheios de arte.
A deslocada sou eu... não me encaixo... penso errado... nunca entendi certo. A impressão que tenho é que todos são atores representando a minha vida, o meu passado, a minha história... o meu coração, o meu amor...
E se isso me fere que importa? Se de mim tiram sarro que importa? Debocham do que considero minhas certezas, do que sei que é minha verdade.
Ando e não ando... Paro, volto, desço, subo. Estou cansada de tudo isso. Às vezes me parece que vivo num mundo que transcende a outro irreal, tipo uma fake news (é assim que se escreve?).
Porque fotografo tudo? Porque quero eternizar o encanto, quero guardar o sentimento, quero poder olhar de novo o que me fascina. A fotografia é isso. É o eternizar do instante vivido. É como parar o tempo para dar tempo de o contemplar, sempre tão fugidio, tão rápido e inalcançável.
Me sinto perdida. Todos acham que suporto qualquer coisa... que posso pegar um fruto espinhoso com as mãos sem me ferir...
A vida não é uma brincadeira. Não é essa peça de teatro. Se for eu sei nela viver. Não sou um personagem, muito menos a protagonista que esperam que eu seja.
O protagonista está lá, dizendo-se todo feito pra dançar, mas se perdendo na dança por não se deixar achar. Se esconde até de mim. Até de mimmmm.
Olha, se você ainda não sabe eu sou essa pequena flor silvestre (sempre-viva) que, talvez hoje, esteja se transformando em semente.
E é no silêncio das sementes que a flor morre para um dia, se houver solo propício, uma outra planta renascer...