Sou uma mulher
com dois homens.
Um é brincalhão
e vive pregando
peças em mim.
Brinca de esconder,
foge quando chego perto
e depois me chama:
vem Maria!
E quando entro pela porta
ele faz brincadeiras
e voa comigo pela sala
num fogoso dançar.
O outro é sério,
silencioso,
parece estar
sempre refletindo,
pensando,
compenetrado
em seu mundo,
calculando se fica comigo
ou se vai armar
armadilhas para flores
caçar na floresta.
Indeciso, tem medo
de fadas e suas mágicas
e embora eu acredite em milagres
e sou um, ele não.
Me diz: eu sonho!
E eu também sonho.
Por isso, escolhi
com os dois ficar.
Um pra usar de noite,
esquentar meus pés,
outro pra de dia fazer meu café
e me acompanhar em minhas
viagens e sonhos.
Um cuida dos nossos bens,
meus baús, colares e pulseiras,
minhas pequenas riquezas.
O outro cuida de mim,
faz carinho,
pega no colo, beija minha mão,
vai comigo em minha bolsa
ou no bolso da camisa
ou jaqueta de linho.
Esse assiste minhas aulas,
coloca música no carro,
canta só pra mim.
Sou mulher
de dois homens
e um coração.
E o povo diz:
lá vai Maria,
a mulher de hoje,
com dois cordões
de luzes no pescoço
e um amor plantado
em raízes profundas
na máquina que a faz viver...