Fico com os assombros do dia.
Com a vida sem reflexos,
sons apagados,
cristais quebrados, foscos,
sem pássaros ou flores
que o Poeta entregou
na manhã que já passou.
O canto dos dias,
foram apenas dois.
Não haverão outros.
Já estão no passado.
Enquanto cantas os pássaros,
eu canto para um pássaro.
E não quero mais olhar a paisagem.
Nem registrá-la em quadros do dia.
Sou eu o homem embrigado...
Que é faina (trabalho), chama-se assim.
Hoje me descobri, mais uma vez,
na inocência de uma menina.
Que acredita num céu e num mundo
que moram em seus sonhos.
Mas, também descobri que
não sou mais uma estrela.
Agora sou um quadrado
de quatro pontas.
Uma delas não sou eu.
Quando cheguei eu vi
as cores cruzadas sobre a mesa -
e mesmo assim, fiquei.
Porque não tenho medo
e não sei mais fugir de mim mesma.
Então... poderia
ter silenciado.
Não precisava me dizer
que seu canto
é a um outro pedaço
de si mesmo.
Por isso, fico
com os assombros do dia.
Onde meu canto é seu canto,
minha voz é a sua,
meu desejo é você.
Aqui, não há encruzilhadas
armadas por deuses não patrióticos.
Nem remendos ou adeuses soltos ao vento.
Aqui as histórias mais simples
são tão complexas
que chegam assombrar,
impressionar
pela sua intensidade
e magnitude.
O impacto disso,
só o tempo dirá...
Não há dor sem fim.
Mesmo a aridez quase desértica,
mesmo descobrindo-se a morte dentro da vida,
no amor, não há morte sem fim.