É a mim que as sombras desse castelo
que encontraste numa púrpura amora assustam.
Fui árvore de amor em tua noite de domingo.
Entreguei minhas flores e frutos.
Te amei com meu canto, minha boca,
com os desejos do meu coração,
desejos insanos e quentes de meu corpo
- que entreguei por meio de meus olhos,
me fazendo poesia em tuas mãos.
E recebo, na manhã de ontem
plumas do adeus rebuliçando minha face.
Sou foto esquecida em tuas mãos.
Lembranças que amaciam
a despedida que me pediste na tarde.
E nossa história é cheia delas.
De você partindo e nunca voltando.
De você indo e nunca estar chegando...
Dizes que de dois lados caminham o improvável
e que de dois lados te arredam
lembranças que fim não terão.
Falas do meu amor, que fim não tem.
E você sabe, mas rejeita
- é a ele indiferente -
para depois chorar por ele.
Eu vi o anúncio da nova terra escrita
aos pés da mulher que não cansa
de derramar amor e adoração
em teu jardim e é a única,
a única em toda tua vida
que recebe tua visita
com palavras que são minhas.
De fato, sua nave viaja sem rumo
- aproveitando um domingo,
no momento em que
eu lhe falava de meu amor -
você, surdo não me ouviu -
e encontra "sua terra
salpicada de paisagens vazias.
Encontra um "brado de amor
onde o belo se mistura em sonho.
Do sonho, que todos nós temos,
que todos almejam".
Suas palavras.
E a vida passa
naquele momento,
você diz.
E a vida sou eu.
Você se debruça em tuas lembranças
- até estranhas - pois não estou nelas.
Lá se encontra "muito belo e profundo
sentimento da poetisa, que nos leva
a uma profunda meditação
e nos faz perguntar sobre
a angústia do amor igual a uma flor
colhida e desprezada: sou eu essa flor
colhida e desprezada.
Porque as flores que tu colheste
e me deste eu guardei.
"sempre estará viva entre nós",
nós=eu e você.
Estão no prato de amor
em cima de minha mesa
onde meus olhos falam contigo.
E as sementes eu plantei
para que se eternizassem
em meu jardim.
Para que o amor não morra,
mas fique sempre vivo em mim.