A pergunta que fica é:
é assim, em meio ao caos,
em meio a shows, festas, interesses
que bloqueiam os caminhos para a rua
que é a essência da cidade,
que é sua alma, que é o lhe alimenta,
segura em pé, lhe empurra pra frente,
apoia, está sempre junto, perto,
que o elegeu como prefeito de si mesma,
que nele confia, que o ama e adora?
Isso só o prefeito, o rei, o príncipe
sabem e podem responder.
A vida não é só show, festa e corrida
atrás de medalhas e honrarias.
A vida é olhar o sol e se ver no seu horizonte,
se reconhecer em suas cores.
A vida é sentir o perfume da flor,
tocar suas hastes, observar
os detalhes de sua existência,
as pétulas de que é formada,
sentir seu aroma no ar,
a singeleza de sua beleza
e se encantar por ela existir
e naquele instante está ali
pra sorrir amor ao teu coração
como sempre esteve.
A vida é saber que quando chove chuva
é o céu descendo a terra para abraçá-la e amá-la
em meio ao caos que ela própria se cria,
no meio da dor, das feridas, do sofrimento.
A vida é andar de mãos dadas,
comer pipoca junto,
olhar o entardecer na montanha
sem contar segundos,
sem medir horas,
sem sair correndo de cá pra lá,
de lá pra cá em busca de coisas,
vivências, experiências
que, mesmo prazeirosas,
não alimentam o espírito,
não enchem o coração de luz,
não entregam amor
como a vida nos entrega
desde o abrir do livro
do tempo de nossa vida.
E foi assim que ele foi eleito.
Mas, ele para, tranca a vida da cidade,
bloqueia tudo e só corre atrás de seus interesses,
dinheiro, dinheiro, praia, mar,
festa, cerveja, fridas, frirz,
ser amado pelas pedras preciosas da cidade,
seguir estrelas...
Mas bloqueia a vida da cidade que o ama.
Nesse caos eu não quero viver.
Não tem onde pousar.
Todos os dias a mensagem:
não há espaço: esse endereço
está bloqueado pelo prefeito.
O diabo com esse prefeito
que não merece a cidade que tem,
que o elegeu pra dela cuidar,
proteger, pra ela amar.
A gente elege alguém
porque se identifica com ele,
com sua vida.
Aqui também só se pensa em festa,
dinheiro interesses dos demônios.
Enquanto lá a vida está bloqueada,
interditada, impedida de viver
sua própria vida.
Hoje, olha o passado e tem saudades
dos primeiros tempos,
quando a cidade vivia
os tempos de carrinhos e carruagens
e passeava feliz pelo jardim.
Hoje convive com o lixo esquecido por outra vida,
vive a sua e a vida de outra
e mesmo assim ainda acredita no seu sonho
de um dia viver sua própria vida.
Plantar suas sementes
e não as sementes e a maçã
deixadas na mesa por outra flor.