Quero caminhar nessa montanha.
Perambular em seus costados.
Sou montanhês simples e rudimentar
que escreve com o coração.
Quero na mão, dois cajados,
um para me amparar e proteger
de minhas quedas e outro para
eu vestir e abraçar
na hora de acender fogueiras.
Que tenha espinhos para me acariciar
e que em minhas horas de colheita
em meus campos, não tenham parentes.
Também não sou bravo,
mas gosto de rodopiar
no vento e nos raios do sol,
ue me amainam minhas ânsias
por voos em seus céus...
Quando a montanha alvorece é a festa interior,
quando ela adormece é a nossa noite de fogueiras
e espadas flamejantes para a batalha lutar.
O mundo vira festa com o sol iluminando
a primeira hora do dia e nos deixando
na última hora que, quase sempre, se emenda com a manhã.
Na montanha não tem vales, nem campos.
Cânyons e abismos são feitos para voar.
Tem horizontes para um montanhês
que, inda que seja um dia mar
e no outro resto de palhoça,
encontrou sua paz
longe dos conflitos e dançando
ao feroz vento, se abrigando em si,
no silêncio de sementes,
nas horas fortes do sol
ou em meio ao caos dos temporais.
Mas, o mundo vira festa de criança brincar na montanha.
Escorregas e rodas gigantes, barcos sem rumo,
areia e espino pra eriçar os sentidos.
Por isso,
por isso, sou montanhês de dia
e de noite e sonho brincar todo dia
na pracinha da montanha
que tem campainha
e lâmpada de antigamente
para iluminar minha chegada,
sem mais partidas.
Tem até um pinheiro de natal permanente.
Vou morar lá no corpo dessa montanha de amor,
que sou eu, que é você.
Lá tem pássaros que cantam e voam juntos,
se rebuliçando um no outro,
a natureza se amplia à felicidade
e até os pombos se esfregam apaixonados.
Minhas cabras de leite voltam a ser crianças
e dormem ao forte calor do sol
no colo de arbusta árvore pejada de fruta-cor
e lembranças do que foi e do que poderia deixar de ser
na manhã de nossa noite de todo dia.
Sou montanhês de amor.
Por isso, amo minha montanha querida.
E digo pra ela: deixa eu escalar tuas terras.
Vou acender fogueiras que te farão
tocar o céu com as mãos...
com a boca... com o corpo...
e entregar tua alma
ao teu montanhês de amor...