Mulher Sem Ósculo
Quem anda pelas nuvens e montanhas sou eu.
Sou que grito, esperneio, brigo com meus arranhos:
que adiante ser fósforo se não tenho a vela para acender?
Deram pra outra campesina.
Agora tenho chama e não tenho o que acender.
Lenhadora não sou.
Nem sei pegar num mísero machado pra uma lenha picar.
Não tem cavaco pra catar nesta floresta montanhosa
que, por inocência, resolvi adentrar.
Agora me perdi dentro dela.
Não sei pra que lado ir.
Deixei em casa, dentro da bolsa, minha bússola de mão
apontando o Norte da minha vida.
Sou mulher de ninar, vejo estrelas todos os dias,
durmo junto aos anjos da Córsega,
mas os poetas só querem saber de mulher de rimar.
Nem uma meiga e doce mulher de ninar eles olham.
Ela só fala por sussurros, chora, vive atarefada,
nunca dá conta de tudo que tem pra fazer, nem não, não sabe dizer...
Que adianta ser mulher de ninar e nem um ósculo por isso ganhar.
E ainda ter de ouvir que mulheres sem ósculo merecem ser abandonadas.
Enfim, chega de reclamar, vou fazer minhas malas e fugir lá para Espanha.
Vou lá, morar com anjos lindos e encantadores
que me entregam presentes todos os dias:
trabalham meses inteiros para construir lindas janelas coloridas.
Com elas posso viajar pra onde eu quiser ir,
como Maria, como flor, como sol, lua, água, rosa de amor...
e vou levar na mala de viagem meu computador,
para escrever cartas de amor e publicar
quando eu, dessa floresta conseguir sair
com sinal de fumaça de uma fogueira de pedras,
que vou fazer para o meu amor avisar
que perdida estou numa floresta na montanha.
Ele é o único que vai entender
e sei, num cavalo dourado vai vir
Vem com um girassol na mão
me buscar pra sua casa me levar.
Maria
Enviado por Maria em 31/10/2022