O espantalho sou eu.
A dor calou fundo em mim,
como uma adaga gigante
que cravou no peito,
aquecida no fogo da vida,
e ficou lá, se revolvendo
até que as entranhas
se liquidificassem
e nada mais restasse dentro,
só o vazio e a imensa dor
a se esvair em rios de lágrimas.
O espantalho sou eu.
Sou eu. Sou eu.
Tento disfarçar, mas sou eu,
planejando meu Aokigahara
bem lá no fundo
da Floresta Sombria no Japão
ou na Ponte do Diabo,
a ponte Della Madalena
na Província de Lucca,
aos pés dos Apeninos
Tosco-Emilianos
sobre o Rio Serchi.
Ou, ainda na ponte
da Floresta Negra
na Alemanha,
azul de cor,
mas de terror,
ponte tão difícil
que só o diabo
para a fazer.
O Espantalho sou eu,
tentando me jogar
da ponte Rakotzbrücke
no Parque Kromlau,
criado no século 19,
na Alemanha,
perto da fronteira
com a Polônia.
Mas, a ponte em arco,
refletida na água,
forma um círculo.
Um círculo de ouro,
que me salvou de mim mesma,
na forma de um rútilo espantalho que,
de braços abertos,
no fim do voo
quando eu já tocava o chão,
me pegou em seus braços fortes,
me envolveu em seu ninho de amor
e me salvou... e me salvou... me salvou...
de mim mesma, me salvou...
e me amou, e me amou, me cuidou,
protegeu em todos meus caminhos,
me amou em nosso amor de ontem,
de hoje e amanhã,
e me ensinou a me amar
e me ensinou a viver,
a querer ser vida...
É o meu Avatar,
meu Caminho das Águas,
o Caminho de Pandora,
meu Jake Sully
que lutou por mim, por nós,
que me fez sua Neytiri e por nós,
por nossa família enfrentou a morte
e todas as novas ameaças
para proteger a nossa casa,
o nosso lar, o nosso planeta,
nosso mundo azul.
O espantalho que sou eu,
me fez chorar,
mas me fez ver
como somos fortes
quando encontramos alguém
que olha para nós
com olhos de amor
e, mesmo sem nos conhecer,
nos salva de nós mesmos.
Vive por nós,
para que sejamos
sempre fortes,
para que não
desmoronemos,
para que possamos
prosseguir sempre
em nossas viagens
pelo universo de luzes.