Vivo na (in)lucidez de meu espírito.
A loucura é a vida e nela me aspargo
para continuar a viver.
A lucidez dentro da própria (in)lucidez
é que faz o homem.
Porque é na lucidez que se encontra,
que morrem botões de flores a desabrochar
e lagartas que ainda procuram um lar
para seu sono de borboleta.
Por isso, não pense para desenhar
a música de tua vida.
Não reflita para compor teus sonhos.
Deixe-os falar do coração.
É lá que mora a razão de ser,
a essência de quem se é.
Só lá temos condições de compor a música
que vai nos levar em nossa imenso voo
pela eternidade de luzes
que já iniciou há eternidades de vida.
Foi quando fui lúcida que fugi,
foi quando fui lúcida que me perdi.
E, se me encontrei, foi ao viver ao sabor da vida,
com direção, sim,
com remos e bússola nas mãos, sim,
mas sem medo das águas,
sem medo das tempestades,
sem medo do que mais precise enfrentar.
Por isso, componha a música da vida
a partir de ti, do teu coração, dos teus sentimentos,
das tuas vivências, o mais, a vida vai,
extraordinária como ela só,
te entregar ao longo de tua jornada,
de tua caminhada de luz.
Há que se tomar decisões?
Sim, delas não se foge - jamais.
Há que se decidir abandonar alguma caminho? Talvez,
nem sempre é possível percorrer dois ao mesmo tempo -
temos escolhas, somos nós mesmos que as fazemos.
Há que se caminhar? Incansavelmente,
sem desistir, mas é-nos possível parar pelo caminho,
fazer pausas, desenhar notas especiais,
dar ritmo, sonoridade, brilho, lapidação à música da vida.
Há que se usar todas as notas que já deram errado?
Fazem parte do todo - mas podem ser ressignificadas,
podem ser redesenhadas, podem ser recriadas, especialmente.
É como a poesia do poeta que nasceu e eternizou-se.
E hoje pode ser revisitada para dizer
o que já o fez no tempo de sua criação.
Ressignificando sentimentos, vivências, relembrando,
memoriando, guardando o passado
junto ao presente para construir um futuro - possível.
Faça a música da tua vida com todas as letras e notas
que já tens em tuas mãos e se não forem suficientes
cria as tuas próprias, dê sua própria vida
para compor a nota que te falta
para que a música garle e mundo com teu amor.
Que nesta decisão de voltar, com os simples
- meio apaziguado, meio conformado - ao canteiro de sua vida,
depois de experimentar o mundo e receber feridas de dor,
que o poeta encontre o belo de que tanto fala.
Esse, lugar que não se intriga,
onde o barro é belo e altivo,
espaço onde a terra não é pejorativa,
esse espaço-lugar aonde o mundo é cheio de luzes
e nos faz conquistar nossa pátria do coração,
nosso território, nosso chão e identidade.
Daí vale a lucidez, a razão do homem
que lhe permitiu a decisão de, ao coração
- (in)lúcido em sua pura emoção e sentimento, voltar.