Maria
Prosa e Poesia
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Textos

São recordações de calças curtas

e pés de barro que nos correm no tempo

quando a alma divaga entre o passado e o futuro,

trazendo o primeiro para o agora viver.

 

Quando o tempo passa, vai afunilando a boca do poço

e a fundura cresce, pois cada dia

é um a menos pra subir e um a mais para descer

ao fundo de meus abismos.

Cravo os pés nos buracos da borda e me recuso a ambas ações,

pois o que me digna viver é o tempo de agora.

 

Isso não me impede de carregar 

na bagagem as lembranças de ontem

e os sonhos para agora, ou para o depois,

no hoje ou no dia de amanhãs.

 

Também recordo o tempo das discotecas

ou dos noturnos de sábado

e das matinês de domingo no cinema

em que nunca fui.

 

Ainda lembro o estampado das janelas

do quarto carregado de frestas,

enquanto ouvia os alto-falantes do cinema

ao pé do morro de menina sonhadora e sozinha.

 

A música, ouvia porque não havia centavos à pagar

para ao cinema adentrar.

As frestas na parede, pela falta da mata-junta,

era por onde o vento entrava e dançava a cortina de chitão

com rosas gigantes e vermelhas num fundo azul ciano.

 

A vida era simples - sem pipocas, maria-mole, picolés,

embarés e chiclete de morango -

e a menina de tranças ruivas, sardenta

e sorriso dentuço, tímido e medroso,

se encafufava na cama,

olhando as roupas,

penduradas por pregos na parede,

e a cortina que balançava livre

e trazia seu sonho de vestido rosa,

cadeira de cedro e coroa de flores

para dentro do seu pequeno mundo

e para fora do clausuro

da imensa vastidão de sua alma.  

Maria
Enviado por Maria em 09/02/2023
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