A ternura está presente em cada pedaço de mim que chega e toca você.
Também sonho vivermos nós dois para além da nossa janela do tempo.
Não recuso a saudade que chega, nem a deixo ensurdecer.
Eu a sinto e vivo, como fosse um barco carregado pelas marés
para águas que ainda busca o sabor conhecer.
Almejo profundidades, praias desconhecidas,
águas acariciantes e sal para as feridas de um navegar ancestral.
Trago na bagagem o respirar dos temperos
e a voz da gaivota rodopiante que escutas ao longe
entre os gritos do acaso e das tuas buscas por soltar palavras ao vento.
Perdi o rolo do tempo enquanto guardava segredos infindos de sementes
nas conchas e espumas de meu mar, segredos que brotaram e vivem
a juventude de um sentimento descoberto nas areias molhadas de vida.
Estou nas águas da arrebentação, nos rochedos e penedos
que carregam sendas de beijos e sonhos que chegam a ti.
O balanço das algas sopram desejos
nos paredões às 09 horas de minhas manhãs.
Sussurros do vento a me saudar relembrando que o mar está ali
há milhões e milhões de hora do tempo,
num passado que nunca deixarei de viver,
pois é o ontem que me dá identidade
e me permite reconhecer minha alma antiga, ancestral.
Se queres me achar, procura-me ali, no rebentar das ondas contra as rochas,
sou também flor que nasce entre as pedras cujas pétalas
e folhas secas pelo vento se deixam levar ao alto-mar.
Não sei a diferença entre o som das ondas e o canto de meu passado.
Para mim o mar é o infinito de um amor que nasceu num jardim
às 14 horas e às 17 suas águas já haviam retornado
de onde partiram para onde voltaram sempre ficar.
Sonho as mesmas águas que correm nas mesmas veias da terra,
na superfície da mesma pele em que navega meu barco com fome de cais.
A tempestade sou eu, o vento que assovia sou eu.
Sou eu que acolho angústias e abraço o pensar roído pela solidão,
as dores que a vida deixou na areia da praia em dias de névoa.
Sou nau indo em direção ao porto.
Recebo o beijo das águas
enquanto escrevo a memória das areias e das marés
sem medo de me perder do mar, as procuras...