Nem sempre entendo as linhas e trilhas do tempo,
as sobras de pó que o poeta fala,
os monturos que fazem lembranças sem vultos
e a dor como onipresença...
Também não sei de todos benfazejos da alma,
mas meu olhar para você entrega todo interior que me habita,
os sentimentos mais puros, o que de mais
magnânimo e intenso carrego no santuário do coração.
Eu, talvez, nem sempre compreenda
o teu silêncio ou o meu.
Mas ouço sua voz e o sussurrar ensurdecedor
de seu falar mudo e articulado.
Ao meu redor,
mora a quietude.
Sou olhar que contempla o longínquo -
mãos dadas - no balouçar carinhoso de um colo de amor.
Ao longe, as montanhas me falam
da nitidez dos sentimentos,
a flor dourada sendo tocada em suas terras,
no adormecer das penugens alaranjadas
sobre a superfície lisa e branca de um momento de paz.
Se a ocasião rende mais sal do que o pleno açúcar,
faz-se a salmoura para as asas feridas,
e os joelhos rasgados pelo chão bruto e sem ângulo
de um passado que já não é.
É quando as coisas do coração falam mais,
tornam-se especiais, lentas e sombreras,
diz o canto do poeta em meio a cevada e o jejum.
É que a vida é tudo que temos,
é o nosso maior prêmio.
É a tua conquista,
o milagre que sou,
o sol e a flor,
com quem a vida
vale alguma coisa,
a volta do reino canelado
de verdade, sinceridade,
paixão e amor!