Sou a tua dúvida e a minha pergunta!
O orvalho que surge dentro da névoa
e não vê o homem comprando o pão,
o jornal caindo na frente da porta
ou exposto nas bancas por onde passa o Sol.
Que sei eu das propinas dos políticos
e sobre quem toma pinga com limão?
Nada sei.
De nada sei!
Nada!
E não conheço os supremos
que morrem por excesso de verbas.
Não fiz essa descoberta
de que um minuto se vai e outro já vem.
Nem inventei o círculo
que desenham os ponteiros do relógio
amarrando o tempo num mesmo lugar.
Olho pra ele e só o vejo passar.
Dias e dias inteiros passando
e eu no mesmo lugar - olhando o tempo passar.
Neste ínterim, envelheci.
Já não sou mais a mesma.
Cada dia uma escama cai
e outra se tapa de pó.
É a massa corrida da vida
que cobre o passar do tempo
e faz o falso chegar.
É mentira que o dia tem 24 horas.
O meu já dura 17 milhões.
E tem 55 ponteiros
apontando todos para o meu final
que pode ser hoje, às zero hora antes das 24.
E sirvam que sirvam o que o povo quer beber.
Pois diz o rei que numa hora amamos
e, na outra, desaba tudo no desamor.
Se é assim, tanto faz se um vive na zero hora
e outro padece nas próximas 24.
Eu?
De nada sei.
Só! Grito e digo
que de nada sei!
Sou, que sou zero hora!
Nem 24 horas eu posso Ser,
só, padecer!
Sou a tua dúvida e a minha pergunta!
O orvalho que surge dentro da névoa.