Sei que ouço a tua mudez
porque também me calo
quando mais me faço ouvir...
quando falo por linhas em branco,
palavras não ditas,
reticências infindas e estrepitosas...
que mais falo.
Quando o silêncio e o aconchego dos abismos,
a quietude e profundeza do caos
causam tanto estrondo
que nada como a afonia da alma
para expressar tanto sentimento
- absurdos e densos...
Como disse o poeta:
“o poema é bálsamo
para quem tem
a confraternidade no coração”.
Mesmo...
mesmo sua tessitura
de difícil deglutição...
Me conheces profundamente.
Percebes o cerúleo
e pensativo olhar em minha mudez...
em meu silêncio molhado,
a boca engolindo rios para não desaguar.
Vês o olhar tentando se comunicar
nas linhas não ditas dos lençóis de maresias
e ondas molhando as areias perdidas na face de amor...
Sabes bem que é no silêncio
e aconchego de minhas xícaras
de canyons aquietados e profundos que mais falo...
Digo por linhas em branco, pausas gritantes,
notas dissonantes e partituras ainda não ditas
que se perdem ao vento
como se perdem em meu coração
as notas dessa melodia...
Neste íntimo deleitar surgem antigas iluminuras
nos cróceos pergaminhos da alma...
Indubitavelmente, neste território açafroado de luz
inexiste a penúria de palavras,
pois sobejam versos no cadenciar descompassado
das tessituras de meu silencioso poema...
É assim que o meu silêncio ouve a tua mudez...