Maria
Prosa e Poesia
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Textos

 

Sei que ouço a tua mudez

porque também me calo

quando mais me faço ouvir...

quando falo por linhas em branco,

palavras não ditas,

reticências infindas e estrepitosas...

que mais falo.

 

Quando o silêncio e o aconchego dos abismos,

a quietude e profundeza do caos

causam tanto estrondo

que nada como a afonia da alma

para expressar tanto sentimento

- absurdos e densos...

 

Como disse o poeta:

“o poema é bálsamo

para quem tem

a confraternidade no coração”.

 

Mesmo...

mesmo sua tessitura

de difícil deglutição...

 

Me conheces profundamente.

Percebes o cerúleo

e pensativo olhar em minha mudez...

em meu silêncio molhado,

a boca engolindo rios para não desaguar.

 

Vês o olhar tentando se comunicar

nas linhas não ditas dos lençóis de maresias

e ondas molhando as areias perdidas na face de amor...

 

Sabes bem que é no silêncio

e aconchego de minhas xícaras

de canyons aquietados e profundos que mais falo...

 

Digo por linhas em branco, pausas gritantes,

notas dissonantes e partituras ainda não ditas

que se perdem ao vento

como se perdem em meu coração

as notas dessa melodia...

 

Neste íntimo deleitar surgem antigas iluminuras

nos cróceos pergaminhos da alma...

Indubitavelmente, neste território açafroado de luz

inexiste a penúria de palavras,

pois sobejam versos no cadenciar descompassado

das tessituras de meu silencioso poema...

 

É assim que o meu silêncio ouve a tua mudez...

Maria
Enviado por Maria em 05/03/2023
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