Olha! Espia!
Estou olhando!
Veja a minha solidão
de lugar nenhum.
Temores que se espalham,
que fazem devaneios
de um verso que chega devagarinho,
batendo asas, qual flor colibri...
ave guardada no pardo envelope do tempo.
Sinta!
Relembre o cheiro amadeirado
de meus abraços,
a força de um sentimento
que já beijou seu ombro e hoje ficou só...
perdido nos lábios molhados de sal e espumas,
coincidências sob os pés de mar e barco...
E segue a minha canoa,
no lento deslizar do crepúsculo
da lua refletida nas águas..
Num Mar da vida,
onde tudo podia ser azul,
ou verde de meus olhos,
esperança que fosse...
podia ser...
Se assim fosse,
se tudo fosse azul,
eu já seria parte de você...
No entanto, habito linhas em branco,
na história que ninguém escreveu,
ninguém viu, nem, nada, ouço falar.
Ouço a mudez do Mar!
Mergulho em seu silêncio...
som que me foge
a cada aproximar...
Solto o cabo de minha nau,
tomo os remos nas mãos
e singro minha solidão
em busca de lugar nenhum...
relembro os tapinhas nas costas
e as fugas pelas portas e escadas
das ondas e marés milenares da vida.
Sigo, silente e só,
respirando o riscado do tempo,
a palha e o cobertor -
o abraço que tenho...
suspiro... respiro...
as linhas em branco
aguardando o desenho
do momento final.
Atiço remos e velas
para o solitário navegar.
Ah! Espumas ao vento!
Marinheiro de sonhos,
imerso em porto sem cais,
voos de pedras e ilusões...