Meu silêncio é marcado por desertos,
oásis sem flores e cardos de ventanias...
Desfolhei-me em areias e cantei a dor de Bach
em cada entrelinha não dita...
Não creio ser uma despedida
o verso avesso e reverso de saudades...
Ah! que lembranças antigas a mente me traz...
de um tempo outro, de um pensamento que deixo ir...
sozinho e calado, um pensamento... esse, ingênuo e puro...
marcado pelo silêncio de um vento que não me procurou,
de um tempo que o meu olhar desfolhou
em areias que, agora, cantam a dor do poeta em mim...
E o vento não me visitou, não me olhou,
não acolheu minhas areias,
não tocou a minha mão,
nem me vestiu de água e pão...
E passa o tempo...
E o tempo é voraz
por isso, a pedra que sou não canta mais...
não, não tem mais jeito, não canta mais...
Cala-se a flor enquanto dedilha
cantigas de estrela, areias perdidas, vento e vela...
É!!!
Em que ventos fui carregada?
Em que verso me perdi?
Em que letra me entreguei?
A alma, o corpo, o céu de capela?
Sou flor assim: digo o que penso
e não me lembro de amar menos o meu girassol!
Mas, o vento... o vento ruindo como rio...
o vento, esse pássaro poeta, não me visitou...
Mas, sou fluida e etérea,
silenciosa e tênue
como o vento que se abandona ao mar...
que não me visita e não me deixa visitar.
Então choro na solidão de meus voos
quando sinto que te demoras,
ou já não me alcanças na essência de meus abismos,
nas planícies e montanhas de minhas marés de angústias,
na maresia de minhas colheitas,
insatisfeitas de terras e águas...
Sabes que só fico em paz ao teu redor,
na claridade de tua alma,
no toque suave de tuas energias,
no roldão de luz que emana de tua presença
e me carrega num redemoinho de infinitos,
num caleidoscópio de cor, luz, vento e asas...