Maria
Prosa e Poesia
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Textos

Não duvido do que é ou do que parece não ser. Constato! E constatando tenho escolhas: fechar os olhos e seguir fingindo não saber o que é ou reconhecer a verdade e elaborar estratégias para sobreviver.

 

Não duvido do destino, mas tenho livre arbítrio, posso escolher não querer vivê-lo ou me debruçar e aguardar, calada, que me trace de horas e confeitos.

 

O destino não é feito um sino que faz de minha vida uma orquestra sem maestro, perdida e sem rumo indo e vindo num badalar sem fim de caminhos que não dão em nada e histórias que nunca tem fim. Posso escolher parar num andar do elevador do tempo ou fazer meia-volta e descer as escadas da vida permanecendo sempre no subsolo respirando o ar das profundezas de minha solidão.

 

Não duvido do que vejo: sei que está lá. Nem discuto o que não vejo: sei que não está em minha visão e, portanto, não sei de sua existência.

 

O perdão não é concedido, é acolhido ou não. Conceder é dar o que você já tem e quem precisar perdoar precisa apreender, primeiro, o significado da palavra. Não existe o não perdoar, porque posso perdoar a outrem e ele mesmo não se sentir perdoado ou dizer que não perdoo e o outro acolher perdão a si mesmo - é porque o perdão é uma questão de acolher ou não, querer ou não, não de dar, conceder. Há que se perdoar a si mesmo para depois saber o que é o perdão e dizer se o concede ou não. 

 

Se o destino nos levará, mais uma vez, para as coisas que não são, porque lutamos por algo que é ou parece ser? Já que estamos destinados para o que não é (seria como um karma geral da vida? Todos tem o mesmo destino e não há como mudar?), deixemos a vida nos levar para onde ela quiser. Se nosso destino é dor, será dor e não há como mudar, se é chorar é chorar. Estamos predestinados para o que não é? - é o que o Poeta está tentando me falar. 

 

Nada mais será o que foi, disso eu sei. E é por isso que lamento e choro. Porque o mundo mudou e me esqueceu num canto escuro enquanto o Sol não me vê passar ao seu lado e não me segue para lugar nenhum.

 

Desolador o conceito de vida. Não há o que se possa fazer se ela virou resma de rolar as chaves de homens que usam colar de vinténs.

 

A culpa é minha que, num dia, seu sol morreu em meu reino que era só volátil esperança. Fiz de você passado e lhe joguei num futuro incerto onde sua história nunca teve fim.

 

Sim, enquanto aqui caem tempestades, vives dias sem vento. As contradições de dois mundos.

 

Se somos dois mortos sem chances de fazer uma vida, o que estamos fazendo aqui lutando para viver?

 

Não há sentido sem sentido. Tem de haver um. E se não há sentido em mim, não há em ti e calem-se os sons dos universos teimosos e destrambelhados de medo.

 

Se moramos num casa de duas saudades... e elas se fazem eternas depois de milênios e milênios de encontros sem fim, há que se perguntar porque ela se reconstruiu. O que faz com que duas vidas optem pelas saudades de viver? Não seria somente uma? Porque se duas querem viver sós e separadas, a saudade vai existir, mas se uma quer viver junto e a outra não concede um milímetro para o aproximar... seria uma meia saudade... a outra metade não sei o que é... saudade, penso, que não seria, desamor, talvez... e digo, não é na minha parte da velha casa de saudades que ele, o desamor, vive.

 

E se me visitando viste tua verdade e chorou... lamento... almejo fazer sorrisos com meu amor... mas... dizes que somos dois mortos sem chance de fazer uma vida... só lamento! Sonhei fazer vida contigo e viver!

 

Se, às vezes, as coisas são porque não são, deverias ter me dito antes que não são. Mas, hoje, não duvido mais do que é. Constato! Você segue, só, bem só, carregando as chaves da noite e eu sigo, só, bem só, carregando as chaves do nada. Tem sentido o choro. E o meu é a falta de palavras...

Maria
Enviado por Maria em 05/03/2023
Alterado em 05/03/2023
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