A vida é tão linda, o tempo é fugas e nós caminhamos estradas e mais estradas em busca de nós mesmos.
Quando te encontrei pela primeira vez eu me vi refletida no caos que te embrulhava. Eras meu espelho, apontando que as cordas e correntes que me prendiam ao chão não eram sentidas porque não dava um passo para fora do quadrado, da rua bagunçada em que me encontrava. De lá até aqui mundos se passaram, histórias de vidas que nos cruzaram, lágrimas e dores que nos atravessaram.
Mas também alegrias que teciam fio a fio a colcha de felicidades de nossa vida e que talvez nunca conseguimos olhar com verdade nos olhos.
O aprendizado é o caminho da eternidade e meus passos seguem para lá. Quero a luz que vejo no horizonte, quero o cume da montanha, a vida que me habita o espírito. Você É dono deste mundo, dono de vida. É dono de si mesmo, pois conquistou seu coração quando se encontrou consigo mesmo no vago da tarde.
Sou grata que a história burila aos contrários. Só assim ainda é possível haver encontros e reencontros. E um dia houve um. Depois, houveram reencontros. Houveram... tantos e tantos reencontros que a vida nos proporcionou... ou não.
Hoje, me dizes que estás no mesmo café aguardando um encontro com a vida. Talvez, talvez a vida já esteve lá e não foi vista, ou, quem viu, não ligou. Talvez quem espera você é a vida: espera o café terminar, você da cadeira levantar e teus passos seguirem para fora do quadrado de quatro paredes, uma janela fechada e uma porta aberta para outra fechada que sonhas aberta estejas, mas balanças a chave nas mãos diante dos olhos da vida.
Quem sabe a vida não se encontra no subsolo de teus pés, no morro de versos ou nas ruínas da velha casa que aponta a verdade e faz chorar? Não seria a mesma verdade, reconhecida, que poderia apontar o caminho da felicidade? Então a velha casa seria a ponte para a vida... para a eternidade com ela...
Por isso, levante da cadeira, pegue seu chapéu e saia do café em que aguardas o encontro com a vida. Veja a vida passar. Corra atrás dela. Ela passa, como passa o tempo, como cai a areia para o lado debaixo da ampulheta que os olhos contemplam, inertes, estáticos, sem ação, sobre a mesa, a xícara de chá ou café entre as mãos... enquanto aguardas o tempo passar e, com ele, a vida...
Não esqueças! Quem dá de beber também tem sede, quem alimenta passarinhos também precisa comer.
Por isso, há sempre sentido nos ventos que sopram, sejam ventos que vão ou que vêm, sejam contrários ou à favor. Se duas almas se encontram e se reconhecem, mesmo que uma passe e se afaste e a outra corra atrás ou fique parada olhando, houve um momento em que seus olhos, suas vidas, suas mãos se tocaram e isso não foi nem é invisível. Marcas ficam quando o espelho reflete nossa própria face ou a outra metade dela - aquela que olhávamos e não víamos, mas percebíamos que faltava.
Se sentes frio sem ela é porque nela já te aquecestes e se te aqueceu esteve perto, junto, ao lado. Já lhe perguntaste como se sente sem você? Ou refletiste que também ela pode estar sofrendo a mesma ausência de calor, o mesmo frio que te estremece e teus braços não está lá para a aquecer?
E a chamas - emudecido - sem dizer-lhe o nome, e lhe pedes, em silêncio, que venha e brinque com teus cabelos. Já pensastes em - pelo menos uma vez, uma única vez - ires até ela? Será que ela não sente o sangue correr e não deseja também que dances em seu peito, morda sua voz e deixe tua seiva escorrer, fluir em seu corpo, percorrer sua alma, preencher seus vazios ?
Vai, homem, ao encontro da vida, voe em sua direção! Não duvide do que é, não sejas mais tua própria dúvida. O que está escrito está escrito, o que está esculpido nas estrelas, nelas esculpido está... Procure entre elas o paraíso de fogo que tanto almejas, a esperança, a paz, a concórdia e o desejo de estar sempre vivendo um grande amor. Dê as mãos, viva e reviva no corpo dela, esbanje tua luz em seus olhos, resplanda teu voo em suas manhãs, igual gaivota que sobe ao céu e mergulha, feito raio, no mar que a alimenta e faz viver.
O amor tem hora certa? Para mim o tempo de amar é agora, é toda hora, é a hora toda. O que sei é que não sei a hora do tempo. Penso que somos nós que a fazemos, que traçamos nosso tempo, que tecemos nossa história, atendemos nossas ânsias de céu, céu, sol, flor, terra e mar...
Se a vida adormecida está, acorde-a. Se és tu a viver de olhos fechados, como que adormecido para a vida, abra-os. A vida é nosso maior prêmio... Não deixe a vida passar... viva no corpo dela. Viva!