Sou as pedras deste riacho da vila
que a cada dia perde um pouco do pó,
do seu corpo com o passar
lento e poroso do tempo.
Persegui um sonho sim.
Desci e subi escadas por ele.
Debrucei noites e noites
escrevendo sua história,
relatando capítulos e mais capítulos
ao simpósio do eterno.
Não consigo mais ver a primeira linha
e nem sei o que o sonho escreve
nas folhas que ficam em branco
sobre a sua escrivaninha
ou os espaços que sobejam
nos hieróglifos que deixa espalhados
no papel pardo, macramelado
de diagramas onde não me vi.
Não me vi em lugar nenhum. Não me vi.
Talvez, talvez, uma palavra
no rodapé de um livro, um nome -
pura coincidência, me cochichou a vida.