Quando me faltam palavras recorro às memórias do tempo,
aos baús de relíquias que guardam a ancestralidade do poema,
a verve antiga e pura que nasceu no escondidinho
do silêncio absurdo e feito eterno.
E os olhos nem podem falar do instante,
pois não recordam mais as estrelas longínquas tremeluzindo,
parecendo milhões de olhos espreitando a terra na penumbra.
A lua flutuando generosa entre nuvens de gaze.
Abrindo-se para as cheias de suas marés,
como fosse as águas do mar desaguando
na praia sonhos que vão e voltam ao sabor das ondas -
lambendo areias onde pés de meninos
brincavam de escrever projetos de céu.
São quentes as marés do dia,
são frias as horas escondidas no território da alma.
Descarrilham emoções
- como areias perdidas por entre os dedos -
mas não se fazem desenhar nas linhas em branco.
É que o tempo de saudades continua em relevo
e o olhar que contempla a paineira em flor -
pela vidraça translúcida e distante - não vê o coração
que se esconde - trêmulo de amor - num castelo de sozinhos.
Há um limite traçado ao redor
e, muito embora, as fronteiras
permitam o toque longínquo de lábios e mãos,
não proporcionam, aos olhos, a visão.