Também não sou eu quem vibra
a corda do berimbal que ao longe chora.
Mas sou eu que rasgo de dor
as cordas do violino
e teço avessos de espinhos
no violoncelo escorado na velha parede.
O som do mofo da alma sopra pela janela
e olhos, verdes e penetrantes,
lacrimejam bandoneons, concertinas e celestas
enquanto soluços ecoam pelo corredor da nave
depois que os pés mergulharam escadas, pela última vez,
em territórios de sol, névoa e céu.
Não vi o abraço querido,
nem senti o beijo de luz na haste da vida.
Mas vi a ira pela chegada da lua,
o incômodo por seu surgir
- sem licença - no momento não propício...
ainda ao entardecer...
Percebi a ansiedade para que partisse,
o descaso para com minha xícara de café
e canyons profundos -
escondida num canto esquecido da mesa
e da janela do tempo
enquanto o chá ocupava
o lugar central do tablado da vida.
Vejo que não há mais espaço
para o coração de uma mulher de amor
neste jardim de canetas
e telas de brincar com flores - não há.
Disso, vi:
a certeza das incertezas.
Mas não quero mais chorar...
Serei forte.
Não me deixarei desabar...
Sigo, calada e triste, mas sigo
e se agora ainda falo - é em silêncio.
Ouço o som do meu silêncio
que toca pífano, ocarina
em músicas melancólicas e sozinhas
e se desmancha em rios caudalosos
e soluços desnorteados e tristes.
É o silêncio a minha poesia,
a minha oração, o meu sentimento...