Talvez, talvez, seja eu o espelho quebrado
na floresta dos esquecidos.
Eu vivi lá eternidades.
Também tentando matar saudades - sem sucesso.
Achei o tesouro da vida,
mas ele não é meu.
Pertence a um anjo amigo
e, dele, não quer de asas mudar.
Eu? Nunca fui achada.
Encontrei-me, sozinha,
caminhando na rua do caos.
Vi o homem embrulhado
em suas próprias tristezas e as senti em mim.
Desejei que, mesmo aos 70 anos de sonhos,
se desenrolasse da dor.
Se hoje moro numa casa feita de barro e amor... moro só...
pois o sol vive no topo do céu,
tem um pêndulo de medir a vida
e uma régua para medir só o quanto falta -
não consegue ver a dádiva do que já possui
e nem diz o quanto falta para quê...
seria pro fim do mundo?
Ele acontece todos os dias.
E não adianta subir as escadas para o céu
porque o destino é de voltar ao contrário da ida.
Mesmo assim, não somos predestinados.
Somos nós que fazemos nossas escolhas.
Não julguemos, nem culpemos os deuses.
Se idos e feridos fomos em um lado de nosso corpo,
ferimos a ida e o outro lado que achamos incólume à dor.
Quem foi, fui eu.
Quem foi empurrada a voltar, fui eu.
Não me vi na floresta.
Vi um canyon profundo e abandonado
num canto da tábua da vida.
E fitas azuis e vermelhas dispostas sobre a mesa,
das quais uma mão arrasta a tela da vida
mudando-a de lugar - quebrando a ordem das coisas.
No copo da vida, o suave - pequeno e simples,
aguardando ser de todo sorvido.
Que seja bela a vida da mão que o carrega
de um lado a outro do espaço do tempo.
70 anos de vivência é mesmo um longo tempo.
Não se vive mais sem esse vestido vermelho.
Eu? O silêncio fala por mim
quando me faltam palavras.
É que sou eu o espelho
quebrado na floresta dos esquecidos...