Maria
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Textos

Espelho quebrado

Talvez, talvez, seja eu o espelho quebrado

na floresta dos esquecidos.

Eu vivi lá eternidades.

Também tentando matar saudades - sem sucesso.

 

Achei o tesouro da vida,

mas ele não é meu.

Pertence a um anjo amigo

e, dele, não quer de asas mudar.

 

Eu? Nunca fui achada.

Encontrei-me, sozinha,

caminhando na rua do caos.

 

Vi o homem embrulhado

em suas próprias tristezas e as senti em mim.

Desejei que, mesmo aos 70 anos de sonhos,

se desenrolasse da dor.

 

Se hoje moro numa casa feita de barro e amor... moro só...

pois o sol vive no topo do céu,

tem um pêndulo de medir a vida

e uma régua para medir só o quanto falta -

não consegue ver a dádiva do que já possui

e nem diz o quanto falta para quê...

seria pro fim do mundo?

Ele acontece todos os dias.

 

E não adianta subir as escadas para o céu

porque o destino é de voltar ao contrário da ida.

Mesmo assim, não somos predestinados.

Somos nós que fazemos nossas escolhas.

Não julguemos, nem culpemos os deuses.

Se idos e feridos fomos em um lado de nosso corpo,

ferimos a ida e o outro lado que achamos incólume à dor.

 

Quem foi, fui eu.

Quem foi empurrada a voltar, fui eu.

Não me vi na floresta.

Vi um canyon profundo e abandonado

num canto da tábua da vida.

E fitas azuis e vermelhas dispostas sobre a mesa,

das quais uma mão arrasta a tela da vida

mudando-a de lugar - quebrando a ordem das coisas.

 

No copo da vida, o suave - pequeno e simples,

aguardando ser de todo sorvido.

Que seja bela a vida da mão que o carrega

de um lado a outro do espaço do tempo.

70 anos de vivência é mesmo um longo tempo.

Não se vive mais sem esse vestido vermelho.

 

Eu? O silêncio fala por mim

quando me faltam palavras.

É que sou eu o espelho

quebrado na floresta dos esquecidos...

Maria
Enviado por Maria em 15/03/2023
Alterado em 15/03/2023
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