Também não quero me deixar ser tomada e movida pelo espírito do tempo.
Quero escrever minha própria história - a luta por um amor
que sobreviveu aos tempos e universos.
Busco sedimentar meus sonhos em raios de amor e brandura
de um sol que ilumina meu ser e dá essência ao meu viver.
Não desejo viver na superficialidade do sentir,
busco mergulhos profundos, diálogos filosóficos e intensos -
na premência da paixão e do encantamento
que conecta minha alma à tua, ancestralmente.
Nunca vivi e não busco viver
o tempo de amores entrecortados,
encontros que se desandam em ilusões e mesquinharias
que só alimentam o ego
e o desejo de aparentar o que não se é.
Quero a antítese do frenesi
e da diversão do amor do momento,
da animação sem alma, da administração de horas de amar,
amores acelerados, agitados e que se dispersam
assim que o bumbo do tempo anuncia o momento de partir.
Quero para sempre, infinitamente, ficar.
Quero a embriaguez de levantar voo,
a beleza de voar com as mesmas asas,
a plenitude de olhar com quem se ama
a estrela que se eleva no horizonte
- azulado - de um entardecer.
Espero a carta inesperada, milagrosa, a mensagem*,
a epístola do amor relevada na exuberância de um sentimento
que não seja outro que não o amor,
o amor pleno, maduro, verdadeiro.
Amor que, nós sabemos,
nos completa e nos permite reter o que nos ascende,
decifrar o indecifrável, ouvir mutuamente nossos solilóquios,
que nos permite cultivar nossas sementes de luz, amor e paixão,
decantar o essencial à vida - que já o sabemos,
emergir nossas verdades - aquelas que caminham só profundezas -
e o que nos mentimos - e nos afastou do sonho.
Anseio que saiamos completamente do sono,
que lutemos pelo amor - mesmo como um tímido sol
que esconde o calor,
mas que abriga o imensurável, o inusitado,
o extraordinário de um sentimento
que poucos no mundo conhecem:
as profundezas da vivência
do que nos faz entender quem somos:
o verdadeiro amor!
*"desde a infância espero, desejo,
a carta inesperada, milagrosa, a mensagem"
(Edgar Morin, 2003).