Maria
Prosa e Poesia
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Há dias e há dias...

 

Há dias e há dias.

 

Há dias em que cansa folhear antigos pergaminhos,

painéis do livro de vida de uma face de pálidos olhos azuis.

A emoção da espera de um som explícito na capa da brochura da vida,

a procura diária pela voz amada nos diversos capítulos

- que não há porque separar se fazem parte do mesmo fio do tear da malha da vida -.

Talvez - e aí há que considerar o que já se imagina ser, mas não se quer acreditar -

que são diversos fios sendo tecidos em mantas e vidas diferentes.

 

Há dias e há dias.

 

E há dias em que cansa procurar, com a ponta da unha sem cor,

um fio que se assemelhe à própria vestimenta - cores, textura, cheiros e matizes.

Em momentos assim, o sentimento é abandonar a procura

como já foram abandonadas as buscas

por mais um sopro do silêncio profundo no mensageiro do tempo.

 

Há dias e há dias.

 

E há dias em que não se reconhece o sol nas vozes das outras estrelas.

Ou, se se pensa ser o tremular de seus raios a tocar a pele

pelo soprar das cítaras de uma orquestra no palco da vida,

não se entende porque um piano toca no lugar de um violoncelo,

uma flauta ressoa magnífica quando o vento leva o som

como se fosse o de uma cítara ancestral

ou o bater dos sinos da igrejinha perdida entre o céu e a terra. 

 

Há dias e há dias.

 

E há dias, de silêncio, que calam tão profundamente na alma

que esta se vê no espelho e compreende que não existem palavras

que possam como o silêncio se expressar - abraça-se, acolhe-se

e com o olhar - distante, mas presente à janela do tempo,

ressoa o som, a melodia, o sopro que se expande

por sobre os abismos milenares,

por sobre a montanha ainda abraçada pela névoa,

cujo cume já pode ser visto, no entanto, ainda,

com os dedos, não se pode a terra -

com suas areias e pedras, flores, florestas e águas,

torres de musgos e líquens - abraçar e beijar...

 

É que... há dias e dias...

 

E há dias em que a Lua se vê no espelho do Sol

e compreende que se os seus raios amados

conseguem se estender em silêncio e lhe abraçar na voz de outras estrelas

também a sua pálida e tênue luz tem esse poder -

de navegar, silenciosamente, o céu e calar

como cala o cinzel sobre a pedra -

tatuando em sua textura, dos dedos, o sentimento, a emoção -

na poesia e na alma da maior estrela do universo

o murmúrio de seu silêncio iluminado e profundo.

 

Maria
Enviado por Maria em 24/03/2023
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