Talvez, talvez, eu ainda precise aprender a tocar notas de amor
com mãos de pérolas e oboés de ternuras.
É que o tempo, carcomido, tolheu a pedra que é meu coração
e deixou pedaços ponteagudos esparsos por sobre as marolas da vida.
Sou um espinho que crava dor às nuvens e névoas que o rodeiam.
E se o vento se achegar também lhe deixo marcas
e faço sangrar sua ousadia em meu rosto acariciar.
Não tenho grandes palavras
- e não sei se nas que tenho há alguma grandeza -,
nem tenho grandes sentimentos a escrever.
O sentimento sou eu
e ainda sou pequena
diante de você
de sua grandeza e seu amor.
Não carrego rótulos nem bulas
de quantas gotas de meu sangue cabem no teu perfume.
Também não conheço o encanto
de uma linha a navegar nas minhas entranhas,
porque elas só tecem lágrimas
e raros sorrisos tem a chance de trepitar um verbo
que consiga expressar todos os meus sentidos.
É que, em mim, o encanto do verbo não é o mesmo do corpo.
Jamais alcanço a profundidade do sentir articulando a voz e a palavra.
Por isso, o canto mudo e articulado.
Não sei o que podes fazer
para sobreviver as angústias que me abatem.
Nem sei me fazer de feliz, sem o ser.
A realidade é que amo
- profunda e apaixonamente -
e nem sempre o amor é sinônimo de felicidade,
embora o amar o seja.
Em mim, o verso sempre é entregue ao espanto, à estranheza,
pois não o reconheço mais quando sai de minhas entranhas
e garla o vento para pousar Poesia nos lábios do teu coração.
Mas, se minhas palavras não lhe tocam mais,
se não mais lhe alcançam,
se não fazem seu coração bater mais forte,
se não deixam teus lábios e tuas mãos trêmulas,
se não ardem mais teu corpo, nem latejam mais em teus sentidos,
talvez seja porque o tempo, carcomido, tolheu a pedra que é meu coração
e deixou pedaços ponteagudos esparsos por sobre as marolas da vida,
transformando botões de luzes em espinhos,
que cravam dor às nuvens e névoas que os abraçam e rodeiam...
É que eu ainda preciso aprender a tocar notas de amor
com mãos de pérolas e oboés de ternuras.