Quanto tempo, quanto tempo,
passei abrindo janelas que nunca fechei.
Quantas horas disposta ao vento
aguardando o revoo do poeta,
as asas do homem que nunca soube a face ver.
E sempre me deixei tontear pelos pássaros
em migração por sobre a face do abismo.
Embriagam-me as palavras, apaixonam-me os poemas.
Tecem sentimentos que há muito eu queria ouvir,
que há muito eu queria dizer.
São frágeis as horas e a teia do tempo, são frágeis.
Um momento nunca se repete,
nem na voz da música que destila o desejo de voar.
É que ná uma certa tristeza beirando o rio,
um medo de a ponte que une, também, um dia vir a separar.
O caminho que vai, mais uma vez me mandar voltar,
a escada que sobe - na lógica da vida -, para descer
outra vez me empurrar.
São frágeis as horas e a teia do tempo, são frágeis.
Um momento nunca se repete,
nem na voz da música que destila o desejo de voar.
Há um sol que ama rosas, aveludadas, cheirosas,
vestidas de seda e olhares lânguidos, pétalas carnudas
e boca que todos os dias sorri de bem perto e é sua vida.
Há ruivas margaridas, folhas secas trevoando o chão,
espreitando a face do abismo com sede de profundezas...
Há - na magia da solidão -
uma flor que chora ao ser tocada,
uma pequenina flor campestre
que se deixa levar ao sabor das ondas do vento
- pra lá, pra cá, pra lá, pra cá -
num voo embriagado, de um lado à outro
dos cantos e melodias do tempo.
Há uma meiga e triste flor
que dança a música do imperador,
tece notas para as mais lindas melodias de amor...
em lágrimas - exalando da dor o olor...
Faz poema do som do vento que cai na alma
sonha enternecer a face de um sol de amor,
mas nunca é colhida para o vaso enfeitar sobre,
da vida, da luz, o parador.