Maria
Prosa e Poesia
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Textos

Trevoar das Asas

Quanto tempo, quanto tempo,

passei abrindo janelas que nunca fechei.

Quantas horas disposta ao vento

aguardando o revoo do poeta,

as asas do homem que nunca soube a face ver.

E sempre me deixei tontear pelos pássaros

em migração por sobre a face do abismo.

Embriagam-me as palavras, apaixonam-me os poemas.

Tecem sentimentos que há muito eu queria ouvir,

que há muito eu queria dizer.

 

São frágeis as horas e a teia do tempo, são frágeis.

Um momento nunca se repete,

nem na voz da música que destila o desejo de voar.

 

É que ná uma certa tristeza beirando o rio,

um medo de a ponte que une, também, um dia vir a separar.

O caminho que vai, mais uma vez me mandar voltar,

a escada que sobe - na lógica da vida -, para descer

outra vez me empurrar.

 

São frágeis as horas e a teia do tempo, são frágeis.

Um momento nunca se repete,

nem na voz da música que destila o desejo de voar.

 

Há um sol que ama rosas, aveludadas, cheirosas,

vestidas de seda e olhares lânguidos, pétalas carnudas

e boca que todos os dias sorri de bem perto e é sua vida. 

 

Há ruivas margaridas, folhas secas trevoando o chão,

espreitando a face do abismo com sede de profundezas...

 

Há - na magia da solidão -

uma flor que chora ao ser tocada,

uma pequenina flor campestre

que se deixa levar ao sabor das ondas do vento

- pra lá, pra cá, pra lá, pra cá -

num voo embriagado, de um lado à outro

dos cantos e melodias do tempo.

 

Há uma meiga e triste flor

que dança a música do imperador,

tece notas para as mais lindas melodias de amor...

em lágrimas - exalando da dor o olor...

Faz poema do som do vento que cai na alma

sonha enternecer a face de um sol de amor,

mas nunca é colhida para o vaso enfeitar sobre,

da vida, da luz, o parador. 

Maria
Enviado por Maria em 28/03/2023
Alterado em 28/03/2023
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