Senti um bater forte no peito e me ocorreu

que é teu coração pulsando, síncrono ao meu.

Neste pulsar atrelado à sonhos,

às vezes, beiram rios nos cílios dos olhos...

é tão longe o tempo, é tão distante o que parecia tão perto.

Às vezes penso em guardar as asas.

Olhos minhas costas, para a claraboia de voos entreaberta,

o espaço para as guardar, enroladas e silentes

na prateleira que teus olhos veem.

É uma certa tristeza que maresia das tumbas ancestrais quando 

nossas almas ainda se procuravam, incansáveis e despesperadamente,

por entre o acender e apagar das estrelas.

Ontem dois astros partiram para sempre e hoje uma estrela caiu,

cadente e ferida, dos galhos que a sustentavam

no céu de nuvens entrecortadas de saudades de si mesmas.

Onde está você?

O não saber onde estás e ao mesmo tempo sentir-te em mim

é mesmo indescritível e não há como desenhar

nas linhas em branco sobre o papel da vida.

Escrevo nas entrelinhas, naqueles espaços

que só um coração consegue ver e sentir.

É tão distante o tempo

que escorre por entre os dedos

e tão junto o teu coração...

Talvez eu deva guardar minhas asas

porque já não frequento mais o nosso espaço,

e não abro mais a janela do mensageiro da vida -

onde nossa história era escrita pelo parlear diário

de dois pássaros feridos e em migração interior.

É que há uma certa desesperança no ar...

caminhamos para tantos sóis ao redor da lua,

tantas e tantas horas na telinha das luzes

e não saímos disso,

da virtualidade da palavra, da poesia, do poema

que, em prosa, devora os sentires da alma

para depois os cuspir no pergaminho do tempo...

numa carta silente e mergulhada em profundas reflexões

que - embora não as queira à tona - emergem das profundezas

para encontrar a reciprocidade no silêncio de um coração...

É assim que nascem os silêncios

e as mãos que entregam flores nos olhos,

quando faltam palavras na palma da mão...

Te amo!

É no silêncio o meu amor, a minha poesia,

a minha oração, o meu sentimento...

te amo em silêncio, na pausa de uma nota só...

que faz o interlúdio entre o meu e o teu coração,

a conexão entre a minha e a tu'alma...

Eu também te amo, amor!