E tua voz é cantada na gaita de boca que faz a conexão
entre uma linha e outra da poesia.
E o grito que ecoa por entre as palavras,
e o sussurro que cintila quando os instrumentos se calam...
é a nossa melodia que me toca...
É que tenho saudades... de nossas noites de primavera
quando a gente dançava e se amava a noite toda
sem medo de não acordar amanhã...
se partir fossemos, teríamos dançado a música da vida
e nos amado com intenso furor...
E acalentávamos sonhos, e tínhamos urgência...
e dizias: temos pouco tempo, tempos muito pouco tempo!
Hoje, tenho saudade...
Tenho saudade de algo que parece que se perdeu
na demora do tempo que era pouco,
no passar do tempo em esperanças
que, aos poucos, foram se calando em mim.
Parece que a magia se perdeu...
voou para outros passados
e não soube mais voltar.
Tem algo que desconectou e eu não sei o que é...
talvez seja, me desconectando da vida....
perdendo aos poucos o tempo que me resta.
Como disse o Poeta:
estou morrendo há tantos e tantos passados do tempo,
há 55 horas... talvez seja esse o tempo da minha eternidade.
E tenho saudade das surpresas de cada dia
no jardim, na janela do tempo,
na caixinha do correio que o carteiro espantava..
Tudo se perdeu, silenciou...
O acreditar, a esperança...
Hoje, caminho bem só pelos corredores da vida
ninguém me vê
ninguém passa mais me desejando um dia bom
tocando meu braço na passagem...
Tenho saudade... sinto!
De algo que parece que se perdeu...
uma magia que brilhava
naqueles tempos áureos
em que tudo era surpresa
tudo era inesperado
e surpreendente...
Mas parece que isso se perdeu...
Você está deixando o tempo passar
e o sonho... sei lá!
parece que foi, aos poucos se indo...
a cada fuga para descer as escadas, os degraus subidos,
para deixar só... quem gosta de ficar sozinho,
a cada saída triste pela solidão de um espaço
- pela fuga de um pássaro de fogo -
que deveria ser de encontro e felicidade...
E tudo foi ruindo...
tudo foi se esmaecendo em demoras...
demoras que, hoje,
falam que o que se espera nunca virá...
Tenho saudade...
saudade do que se perdeu
no escoar das folhas que caem
e formam o tapete de folhas mortas
que, agora, meus pés trilham
desesperançados...
Algo se perdeu...
de nós... de mim...
talvez foi o acreditar
que se desprendeu
e voou para outros mundos...
onde falta o acalentar..
Talvez seja aquela alegria, aquela festa
pelo que havia chegado
e a ansiedade e prelúdio
de um sonho acalentado
e de que o abraço se fizesse carne...
Tenho saudade...
de nossa primeira dança...
quando dançávamos,
braços abertos na chuva,
a música do imperador...
Tenho saudade...
de quando tudo era alegria
tudo era felicidade
tudo era inesperado
e surpreendente...