Sou eu que sussurro teu nome em meus ouvidos
para que tua alma ouça e se sinta acolhida e amada.
Sou eu...
Sou eu que resisto à deriva de um tempo que já devia ter chegado
e que não vejo mais no horizonte, mas que para ele navego
como há tanto tempo, nau à deriva, vou...
rabisco o caminho
enquanto os meus próprios pés o constróem, o fazem...
Sou eu...
Sou eu essa carne exposta no poema, essa carne adjeta,
que não desiste do amor nem para a morte,
nem com o fim beirando a boca do abismo...
Sou eu...
Sou eu que ando assim:
ciente de ti,
ciente de mim,
ciente de um sonho
que ainda acalento no ninho,
que ainda enterneço
com minhas asas de ternura e sublime amor.
Sou eu...
Sou eu que reflete a reincidência dos desencontros,
a reinscidência que pulsa a vida e,
embora as lágrimas adormecem os olhos
em meio ao paraíso da janela do tempo,
da tela de falares e olhares,
é onde me encontro.
Sou eu...
E sou eu que me encontro
em meus próprios desencontros - aqueles que não fiz.
Mas é neles - que recebi - que eu me encontro.
E, surpreendentemente, é quando mais me desencontro de mim,
que mais me aproximo de ti, nesta busca incansável pelo teu amor,
nesta luta diária para manter o sonho vivo e os pés caminhando,
destilando sentimentos no vinho suave e idílico do amor,
o pulsão inebriante e escaldante da vida.
Sou eu...
Sim, sou eu...
mas...
És tu que existes
e resistes em mim,
cindido em meus pra dentro,
encastelado
em meu tenro coração de amor...
És tu... em mim
Sou eu... em ti, amor...