Nunca tive medo do futuro,
sei que ele nunca chegará.
Cada minuto que chega é o presente
que logo se joga do outro lado da ponte,
para um passado que não mais volta,
nem revisitando suas memórias...
Tenho medo é do agora que pode acabar
sem que o toque do sol amaine minhas ânsias
e me enterneça com o calor de seus braços.
É só o que tenho - do tempo.
Esse mísero milímetro de um minuto do tempo
que num acender e apagar de um beijo de luz pode se calar -
e pode se calar até diante dos teus olhos.
Há uma certa tristeza beirando os cílios,
um sentimento de perda inesgotável na música que toca
no ressoar da melodia da montanha na distância dos sinos
e na imensidão do silêncio que bebo em goles grossos e barulhentos.
Mas... meu corpo envelheceu.
Já não é mais o mesmo.
Tantas mortes o desgastaram e é eterno.
Também sinto a exaustão dos dias sem apanágio vividos
e me quedo, silente e sozinha, nas cachoeiras de sal
que se precipitam dos olhos e depois e escondem
por entre as grutas dos lábios trêmulos e secos.
Se a travessia da vida, agora, é comigo, saiba:
não sou serpente ávida por tua vida,
nem o caos que eras quando te conheci.
Não carrego a dor das tempestades
ou das montanhas abraçadas pela névoa,
nem sou armadilha de aranha entre as flores do teu jardim.
Nem mesmo carrego milhões de estrelas no regaço das saias.
Apenas um sol. Um sol que há eternidades é lenitivo de vida
é sonho e certeza, é meu sorriso, minha felicidade pujante
o motivo de meus olhos brilharem e lutarem para continuar a viver.