Maria
Prosa e Poesia
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De revisitar tuas memórias aprendi a perguntar: 

Quem seria eu? Ou, como diria Montaigne: "que" seria eu?

O "que" é muito mais profundo, mais duro, uma "coisa"?

Ou o "quem' teria mais eco no abismo do universo ser? 

Eu? Sou eu... 

 

Mas... não sou ela, tua dama amada,

aquela para quem dedicas tua vida,

tua alma, tua poesia e teu amar. 

Nem sou aquela, que querias que eu fosse,

só para poder me falar e ela - nesse chamado - se encontrar

e você tê-la sempre quedada por ti. 

 

Nem posso mais Marie ser... a condenada, a louca -

a mulher que apresenta uma neurose forte e paranóica,

psicótica e danosa, agressiva e inoportuna

e que precisa de ajuda para a todos parar de prejudicar,

aquela que só a psiquiatria compreende, entende... poderia aceitar... 

 

Ou Maria... ser... a coitada, que ninguém ousa seu nome dizer...

a esquecida, abandonada, às vezes malquerida

mesmo não tendo nome de derrota, derrota ser...

 

"Que" seria eu? A "coisa"!

Apenas flor ou passarinho canoro

que abre asas e só serve

pra cantar ao sol nas manhãs

mesmo que sem forças só teça sussurros? 

 

"O que posso saber?" Não sei.

Pergunte ao Kant, você o conhece tão bem.

Eu, dele, não posso saber.

 

Mas sei de mim.

E do que experimento:

o sabor da minha solidão. 

 

E estou só.

Eu e o todo do meu coração.

Porque você a tempos me abandonou

ao pé de tua própria escrivaninha,

bloqueando minha tímida passagem

para a porta de minha fala...

para o nosso espaço...

em ausências de revisitas...

 

Desculpa, me diz o "Sistema".

Que contraditório!

Empurrar o calar da voz para longe de si

- viste? Livre não sou -

e nem lamentar por isso eu posso.

É esse meu desespero irremediável

de uma esperança incontrolável -

que afogo todos os dias para morrer.

 

É, é esse meu estado contraditório,

minhas lutas com meus demônios antagônicos

que me complementam.

 

E vivo assim: me alimento

desse contraditório mundo,

um devir avassalador que me diz:

flor, não pense!

flor, não sonhe!,

flor, não precisa mais soletrar versos

para uma identidade que não existe mais...

foi apagada de um coração,

foi anulada no poema,

foi abandonada na escada,

foi expulsa de onde se escreve o livro da vida.

 

Agora sou desespero...

insondável, pequeno veleiro

à deriva nas vagas

de um imenso e adragonado mar... 

 

É essa a pergunta que antecede

Revisitando memórias,

as Distâncias do Tempo

e as Saudades do que nunca tive...

 

Tenho saudades...

Maria
Enviado por Maria em 11/04/2023
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