Quantas vezes joguei a fita no azul
procurando agarrar as gotas desse brilho raro
que encontrei no céu de um jardim de primeira página.
Quantas vezes lutei para me deixar fisgar,
machucar pelo anzol da vida...
prender e soltar quando e como o vento quisesse...
E sequei lábios rasgados, sangue escorrendo dos olhos,
boca dormente pelos machucados da linha,
pelos vazios que me abraçavam e não me largavam mais...
Presa da dor, nem consegui inventar outra história
pois a minha jamais teve fim...
Quantos vãos no pensamento, quantos abismos se formaram
e por eles naveguei ou caminhei milhões e milhões de eternidades
em busca dessa memória de uma nova história que ainda não sei...
não conheço para além da tela aquarelada de luzes...
Que saudade dos fiapos de lágrimas, da troca de trapos,
das conversas entre as varas que seguravam anzóis
que a si próprias se pescavam...
num ciclo de perdas e achados sem fim...
E neste ir e vir do Sol, neste pegar e largar da vida,
também fui, tantas vezes, ceifada em minha visão pelos feixes de luzes
que jogavam no meu rosto ao cruzar dos faróis.
Tudo era cristalina/mente claro, sorrateira/mente escuro...
mas eu só via, como tu, a fita azul e a ponta do anzol...
e sonhava (sonho) ser um coração, ser isca... para -
no momento de sua travessia entre um corpo e outro de alguma estrela -
para - todo o sempre - eternamente, o mar fisgar...