Maria
Prosa e Poesia
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Textos

 

 

O tempo não se engana,

não tem olhos para fazer de conta que não viu.

Também não deixa nada passar ou ficar assim.

É ele quem passa e vai, lépido e rasteiro de dias,

levando nos braços a cesta das horas e amoras que comeu.

 

Também vivo com suspeitas de saudade, mas não sou eu

quem fica sempre fugindo lânguida e suave como o vinho

de um homem sem eiras e beiras que recruta o acolá

e fica sozinho numa estrada que se finda

onde começa outra e termina sem fim.

 

Não sei o que a criança levou,

a fada crismou e o pai chorou,

enquanto a mãe partiu sem demoras.

 

Eu sonho! E penso que faço parte de alguma coisa!

Pelo menos sempre penso!

Mas quem sabe se faço ou não faço é o rei de meus avessos,

o homem que me enternece de saudades

enquanto se esconde do mundo e de mim

em seu castelo de três portas e duas janelas só para um lado.

 

É a realidade que entra, enquanto eu saio

ouvindo trovões que ribombam:

aos sábados eu gosto ficar sozinho!

Nas segundas não posso, e terças também não -

ocupo o espaço vestido com minha camisa azul de listrinhas

conversando na noite com florezinhas jovens e belas.

Nas quartas sou professor, de manhã, de tarde e de noite - 24 horas eu ensino.

Nas quintas vou tomar sopa com a mãe

e nas sextas tenho medo de estrelas muito candentes.

No resto da semana estou livre, mas preciso de um tempo pra mim!

 

Claro, depois eu - santo - medito, reflito

e culpo a paisagem que tudo levou,

a flor, a estrela, a lua, a mulher e a musa

que está sempre me fugindo e me deixando sem tudo.

 

E aí me pergunto, puro e cândido:

mas como me deixaram sem tudo?

 

Não sei, não sei.

Sei que pra tudo ter,

de tudo tentei!

 

E agora olho os meus avessos e ela,

culpada de meu desamor, me diz:

sou tempo sem tempo!

Diálogo que fere, pobre sem nascença

e vivo procurando o Achar dentro dos esquecidos

enquanto ele brota mares

e nós vamos colecionando dores e águas vivas...

Tudo ao mesmo tempo de todo nosso tempo...

 

A culpa é dele que fica me pedindo:

faz de nós seu espírito, unta meu amor com o teu!

Mas tempo não tenho, retumba elegante enquanto desço

trôpega e escotilhada de saudades

as escadas que fazem a ponte ou separam

o topo da terra do subsolo do céu...

Maria
Enviado por Maria em 20/04/2023
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